10 de março de 2023

STEVE HACKETT - VOYAGE OF THE ALCOLYTE (1975)

 


Voyage of the Acolyte é o primeiro álbum da carreira-solo do guitarrista britânico Steve Hackett. O seu lançamento oficial aconteceu em outubro de 1975, através dos selos Charisma e Chrysalis. As gravações ocorreram entre junho e julho daquele mesmo ano, no Kingsway Recorders, em Londres, na Inglaterra. A produção ficou a cargo de John Acock e do próprio Steve Hackett.


Momento de se contar um pouco da trajetória deste fenomenal artista, o grande Steve Hackett, através do lançamento do seu primeiro álbum solo.





Início de trajetória


Stephen Richard Hackett nasceu em 12 de fevereiro de 1950 no centro de Londres, filho de Peter e June Hackett. Ele nasceu um dia antes de seu futuro companheiro de banda no Genesis, o vocalista Peter Gabriel.


Hackett tem um irmão mais novo, John, que aprendeu a tocar flauta e tocou, colaborou e compôs, com Hackett, ao longo de sua carreira solo, e ajudou a compor algumas das primeiras canções do Genesis (sem créditos), incluindo "Get 'Em Out by Friday" e "Cuckoo Cocoon".


Hackett cresceu tendo acesso a vários instrumentos musicais, como gaita e flauta doce, mas não desenvolveu interesse pela guitarra até os 12 anos, quando começou a tocar notas isoladas. Aos 14 anos, ele estava aprendendo acordes e experimentando progressões de acordes, embora nunca tenha recebido nenhum treinamento formal.


As primeiras influências musicais de Hackett foram a clássica (Johann Sebastian Bach) e a ópera (Mario Lanza). Ele também citou vários artistas de blues britânicos como influências, como Danny Kirwan, Peter Green e vários guitarristas da banda John Mayall & the Bluesbreakers, bem como Jimi Hendrix, The Beatles e King Crimson.


Hackett



Início de carreira


A primeira experiência profissional de Hackett como músico veio como membro de três bandas de rock: Canterbury Glass, com quem tocou em "Prologue" no álbum Sacred Scenes and Characters, que foi gravado em 1968, Heel Pier; e Sarabande, todas tocando com elementos de rock progressivo.


Hackett se juntou ao Quiet World em 1970, que apresentava seu irmão John na flauta. Ele não escreveu nenhum material com o grupo, pois os fundadores da banda dirigiam o que os outros membros tocavam, o que não incomodou Hackett, pois ele desejava obter mais experiência em um estúdio de gravação, já que a banda havia fechado um contrato com uma gravadora. Hackett tocou no único álbum de estúdio da banda, The Road (1970), lançado pela Dawn Records, e os deixou logo em seguida.


Genesis


Em dezembro de 1970, Hackett colocou um anúncio no Melody Maker em sua busca por uma nova banda.


O anúncio dizia: "O guitarrista-compositor imaginativo busca envolvimento com músicos receptivos, determinado a se esforçar além das formas musicais estagnadas existentes".


O anúncio foi respondido pelo vocalista principal do Genesis, Peter Gabriel. O Genesis, que também incluía o tecladista Tony Banks, o baixista Mike Rutherford e o baterista Phil Collins, e a banda havia perdido o guitarrista fundador Anthony Phillips e buscado um novo substituto permanente para seu substituto temporário, Mick Barnard.


Gabriel aconselhou Hackett a ouvir o então seu último álbum Trespass (1970) antes de Hackett fazer o teste para o grupo. O primeiro show ao vivo de Hackett com o Genesis aconteceu na City University, em Londres, em 24 de janeiro de 1971.


Voyage of the Acolyte


Em 1975, Hackett era o guitarrista da banda de rock progressivo Genesis já por quatro anos. Ele começou a escrever seções de diferentes canções enquanto gravava álbuns com o Genesis, especificamente nos momentos em que seus "serviços não eram realmente solicitados e descobri que tinha muito tempo livre".


A essa altura, Hackett estava cada vez mais frustrado com a agenda lotada de turnês da banda, que afetava sua criatividade, e Steve tinha um desejo crescente de trabalhar com um novo conjunto de músicos.


Hackett havia composto peças sem nenhum projeto específico em mente, incluindo aquelas para outros instrumentos além do violão/guitarra e outra para uma vocalista feminina, mas depois de um tempo reuniu ideias suficientes para formar um álbum. O desenvolvimento foi suspenso no final de 1974 devido aos compromissos da turnê do Genesis com seu álbum The Lamb Lies Down on Broadway (1974), mas Hackett permaneceu produtivo e continuou a compor em seu quarto de hotel todas as noites, o que o manteve "são" e ajudou a acalmar seu nervos de palco.


Quando se tratou da direção do álbum, Hackett pensou em um conceito vago de seu novo interesse em cartas de tarô, que ele usou para intitular as faixas do álbum e suas letras, com base em várias cartas em um baralho.


Ele pegou as cartas que evocaram o sentimento mais forte e "mapeou uma maneira de trabalhar", como ter "Star of Sirius" uma faixa "pop” para refletir o otimismo que a carta de Tarô correspondente retrata.


Uma faixa deixada de fora do álbum foi chamada "The Fool", que tinha Hackett tocando em um estilo semelhante ao de Pete Townshend para uma música que era como "ELO encontra The Who", mas ele optou por não usá-la.


Hackett



Parte do material de Hackett se originou de seus dias pré-Genesis. Hackett convenceu o Genesis a ensaiar "Shadow of the Hierophant" como uma música em potencial para Foxtrot, mas não deu certo.


O disco também marcou uma primeira colaboração com seu irmão John em um álbum, que continuou através da carreira solo de Steve Hackett. O álbum também significou as primeiras tentativas de Hackett em tocar teclado e visava um álbum que tivesse um som mais em camadas.


O título original do álbum era Premonitions, mas a Charisma não gostou do nome e sugeriu Voyage of the Acolyte, com o qual Hackett concordou.


Hackett gravou Voyage of the Acolyte em junho e julho de 1975, começando um mês depois que o Genesis terminou a turnê de seu álbum conceitual duplo, The Lamb Lies Down on Broadway. A gravação foi concluída em quatro semanas no Kingsway Recorders.


A capa do álbum é uma aquarela chinesa do artista brasileiro Kim Poor, com quem Hackett se casaria posteriormente e que produziu muitas das capas de seus álbuns subsequentes. Hackett dedicou oyage of the Acolyte a ela.


Vamos às faixas:


ACE OF WANDS


Ace of Wands” é uma faixa bem progressiva, com passagens bem bonitas e uma espécie de estrutura caótica.


HANDS OF THE PRIESTESS, PART I


Belíssima canção, a qual se apresenta mais melancólica e suave, entretanto, belíssima.


A TOWER STRUCK DOWN


A Tower Struck Down” é mais soturna e mais pesada e a alta intensidade – e experimentações – são as marcas mais fortes da faixa.


HANDS OF THE PRIESTESS, PART II


Continuação do tema visto anteriormente, mas bem curtinho, com menos de 2 minutos.


THE HERMIT


The Hermit” conta com bons vocais de Hackett, em um clima mais ameno, quase uma balada.


A letra fala sobre solidão:


Enshrouded by darkness

A figure slowly forms

Through many years of banishment

No shelter from the storm

To find this slave of solitude

You'll know him by his star

Then take his hand, he'll lose himself

Knowing who you are





STAR OF SIRIUS


Star of Sirius” traz Phil Collins nos vocais e mistura bem passagens mais calmas com outras mais intensas, em uma canção belíssima.


A letra é uma mensagem de fé:


Again renewed by the vessels of Isis

You're ready to fly

Although the journey is still far from ended

You gaze at the sky

Above the cloudless night

Nebulous bright


THE LOVERS


The Lovers” é outra faixa curtíssima, com menos de 2 minutos.


SHADOW OF THE HIEROPHANT


Shadow of the Hierophant” é uma verdadeira peça de arte do Rock Progressivo. Os vocais líricos de Sally Oldfield são um espetáculo à parte, e esta é uma composição que lembra bastante o que Steve fazia no Genesis.


A letra mostra um eu lírico desiludido:


Lost in thought in search of vision

As the moon eclipsed the sun

Tears fill the fountains failing their promise to heal

Rippling the waters mirror an ended ideal


Considerações Finais


Voyage of the Acolyte foi bem na parada britânica de álbuns, conquistando a 26a posição. Em compensação, ficou apenas com a 191a colocação em sua correspondente norte-americana.


Mike DeGagne, do AllMusic, dá ao álbum uma nota 4 (em 5), descrevendo: “A essência da música progressiva é caracterizada perfeitamente em Voyage of the Acolyte, o primeiro álbum solo de Steve Hackett. O ex-guitarrista do Genesis usa seu domínio instrumental para evocar imagens musicais de feiticeiros, magia e antigos castelos ingleses com o uso principal de teclados e guitarra elétrica”.


Depois, o revisor aponta: “Uma verdadeira obra-prima progressiva, Voyage of the Acolyte é um álbum firmemente estacionado no escalão superior do rock progressivo”.


Depois de gravar seu álbum de estreia, Voyage of the Acolyte, Hackett voltou a trabalhar no Genesis e gravou A Trick of the Tail (1976), o primeiro da banda com Collins nos vocais principais. Hackett é creditado como compositor em "Dance on a Volcano", "Entangled" e "Los Endos".


O disco seguinte, Wind & Wuthering (1976), seria o último álbum de estúdio de Hackett com a banda. Ele estava cada vez mais insatisfeito por sua falta de liberdade e nível de contribuição e insistia que mais de seu material fosse incluído no álbum, mas acabou rejeitado.


O segundo álbum da carreira solo de Hackett, Please Don't Touch!, seria lançado em abril de 1978.





Formação:

Steve Hackett – Guitarra, Violão, Mellotron, Harmonium, Bells, Vocal (5)

John Acock – Piano, Elka Rhasphody sintetizador, Mellotron, Harmonium

John Hackett – ARP Sintetizador, Bells, Flauta

Mike Rutherford – Guitarra de 12 Cordas, Baixo

Johnny Gustafson – Baixo (6)

Percy Jones – Baixo (3)

Phil Collins – Bateria, Percussão, Vibraphone, Vocal (6)

Robin Miller – Oboé (4, 5)

Nigel Warren-Green – Violoncelo (5)

Sally Oldfield – Vocal (8)


Faixas:

1. Ace of Wands (S. Hackett) - 5:23

2. Hands of the Priestess, Part I (S. Hackett) - 3:28

3. A Tower Struck Down (S. Hackett/J. Hackett) - 4:53

4. Hands of the Priestess, Part II (S. Hackett) - 1:31

5. The Hermit (S. Hackett) - 4:49

6. Star of Sirius (S. Hackett) - 7:08

7. The Lovers (S. Hackett) - 1:50

8. Shadow of the Hierophant (S. Hackett/Rutherford) – 11:44


Letras:

Para o conteúdo completo das letras, recomenda-se o acesso a: https://genius.com/albums/Steve-hackett/Voyage-of-the-acolyte


Opinião do Blog:

De início, precisa-se estabelecer que Steve Hackett é um dos grandes instrumentistas da história do Rock.


Dito isto, a primeira aventura solo do eterno guitarrista do Genesis, Voyage of the Alcolyte, permitiu que Hackett expressasse toda sua categoria sem as amarras que o seu grupo lhe impunha.


Muitas vezes apostando mais na sutileza que propriamente na intensidade, o álbum é, para o site, uma das mais impressionantes obras de todo o Rock Progressivo. Hackett constrói melodias belíssimas, muitas vezes acústicas, mas todas realmente tocantes.


Passagens mais intensas são igualmente espetaculares, especialmente em sua obra máxima, “Shadow of the Hierophant”, minha peça favorita do disco.


Enfim, não há muito mais que se dizer sem soar piegas, mas Voyage of the Alcolyte é uma obra essencial do Rock Progressivo e um atestado definitivo de toda a maestria do grande Steve Hackett.

2 comentários:

  1. É interessante como tanto Hackett quanto Gabriel só mostraram seu verdadeiro potencial como artistas quando saíram em carreira solo - Gabriel por querer explorar sonoridades diferentes e Hackett por finalmente ter espaço suficiente para mostrar sua habilidade como guitarrista. Gosto muito do Genesis, mas sempre fiquei com a impressão de que, depois que Peter Gabriel saiu, Tony Banks tomou as rédeas do grupo com o apoio de Mike e Phil, deixando pouco ou nenhum poder de decisão para Steve, que estava progredindo em direções distintas dos demais. Ganhamos nós, pois ele lançou bons discos ao longo dos anos, como "Please Don't Touch", "Defector", "To Watch the Storms" e o recente "Surrender of Silence". Neste disco, especificamente, "Shadow of the Hierophant", a bela "The Hermit" e "Star of Sirius" são destaques absolutos. A última faz pensar que o Genesis poderia ter continuado prog se não tivesse deixado Hackett escapar...

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    1. Eu curto muito o Genesis com o Peter Gabriel... sem ele eu estou tentando novamente digerir, mas é meio intragável pra mim. Adoro a carreira solo do Hackett, especialmente estes primeiros álbuns, ele realmente estava evoluindo a patamares cada vez mais altos no Prog. A carreira solo do Gabriel eu nunca procurei, tenho trauma dos clipes dos anos 80s, rsrsrsrs. Abraço!

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