7 de dezembro de 2015

RAINBOW - RITCHIE BLACKMORE'S RAINBOW (1975)


Ritchie Blackmore's Rainbow é o álbum de estreia da banda britânica chamada Rainbow. Seu lançamento oficial se deu em 4 de agosto de 1975, através dos selos Oyster (Reino Unido) e Polydor Records (Internacional). As gravações ocorreram entre 20 de fevereiro e 14 de março daquele mesmo ano, no Musicland Studios, em Munique, na Alemanha. A produção ficou por conta de Martin Birch, Ronnie James Dio e de Ritchie Blackmore.

O Rainbow é uma das mais fantásticas bandas da história do Rock. O Blog vai tratar um pouco de sua formação para depois falar do álbum.


Stormbringer, o nono álbum de estúdio do Deep Purple, foi lançado em novembro de 1974. Neste trabalho, os elementos de soul e funk que foram apenas pincelados no disco antecessor, Burn (1974), são muito mais proeminentes.

Além da faixa-título, o álbum Stormbringer teve um bom número de canções que receberam bastante circulação nas rádios, como "Lady Double Dealer", "The Gypsy" e "Soldier Of Fortune".

Desta forma, Stormbringer chegou ao 6º lugar da principal parada de sucessos no Reino Unido, conquistando a 20ª posição na correspondente norte-americana.

No entanto, o guitarrista da banda, Ritchie Blackmore, não gostou nenhum pouco do álbum, especialmente dos elementos de soul e funk, execrando-o publicamente como "música de engraxate".

Além disso, outro fator que desagradou profundamente Blackmore foi que seu desejo em regravar “Black Sheep of the Family”, da banda Quatermass, juntamente com a autoral “Sixteenth Century Greensleeves”, ambas prontamente rejeitadas pelo resto do Deep Purple.

Ritchie Blackmore
Simultaneamente, Ronnie James Dio estava tocando em um grupo chamado Elf, o qual foi formado por ele mesmo em 1967, com o nome de The Electric Elves.

Em 1975, a banda Elf estava trabalhando em seu terceiro (e que seria o último) álbum de estúdio, Trying to Burn the Sun (1975).

O grupo havia lançado seu álbum de estreia, autointitulado, em 1972, apresentando uma sonoridade que encontrava o Hard Rock e o Blues Rock.

O Elf conseguiu um moderado sucesso comercial, especialmente por ser constantemente a banda de abertura para o Deep Purple. Ali nascia o início de envolvimento entre Ritchie Blackmore e Ronnie James Dio.

Com a negativa do Deep Purple em regravar “Black Sheep of the Family”, Ritchie Blackmore decidiu, ainda em 1974, gravar a faixa sozinho.

Assim, Ronnie James Dio e o baterista Gary Driscoll, também do Elf, foram convidados a se juntarem a Blackmore nos Estados Unidos e gravarem com o guitarrista.

O resultado das gravações, em conjunto com o ótimo ambiente, encantaram Ritchie Blackmore, que ao final do trabalho, deixou o local com a ideia de gravar um trabalho solo.

Ainda em 1974, Blackmore tomou aulas de violoncelo com Hugh McDowell, do ELO. Mais tarde, o guitarrista afirmou que quando se toca um instrumento musical diferente, há um sentimento refrescante, pois existe um senso de aventura em não saber exatamente o acorde que se está tocando.

Estando satisfeito com os resultados das canções gravadas em Tampa, Blackmore decidiu recrutar os demais músicos da Elf e formar sua própria banda, ao invés de entrar em uma carreira-solo.

Inicialmente, a banda foi nomeada como Ritchie Blackmore's Rainbow, para depois ser encurtado para apenas Rainbow.

Assim, em sua primeira versão, o grupo era formado pelo guitarrista Ritchie Blackmore e os demais músicos que compunham o Elf: Ronnie James Dio nos vocais, Micky Lee Soule no piano/teclado, Craig Gruber no baixo e Gary Driscoll na bateria.

Desta forma, o Elf interrompeu as gravações de seu terceiro disco, Trying to Burn the Sun (1975), para gravar o primeiro trabalho do Rainbow.

A música do Rainbow foi parcialmente inspirada por música clássica (desde que Blackmore começou a tocar violoncelo para ajudá-lo a construir progressões de acordes interessantes), e Dio escreveu letras sobre temas medievais.

Além disso, Dio possuía um alcance vocal versátil capaz de cantar tanto Hard Rock quanto baladas mais leves, e, de acordo com Blackmore, ao ouvir o vocalista: "eu senti arrepios na espinha."

Ronnie James Dio

As gravações foram feitas em Munique, na Alemanha, no Musicland Studios e duraram três semanas, entre fevereiro e março de 1975.

Como o trabalho fluiu de maneira orgânica, Blackmore sentiu que deveria deixar o Deep Purple para se dedicar de forma integral ao seu novo projeto. Segundo o guitarrista:

“Eu deixei o Deep Purple porque eu me encontrei com Ronnie Dio, e era tão fácil de trabalhar com ele. Ele foi originalmente só para fazer uma faixa de um LP solo, mas acabamos fazendo todo o LP em três semanas, e eu fiquei muito animado com tudo”.

Em 21 de junho de 1975, Ritchie Blackmore deixava o Deep Purple (pela primeira vez).

Com a influência musical e lírica do período medieval, a arte da capa contém um castelo e, obviamente, um arco-íris. Obra de David Willardson.

Vamos às faixas:

MAN ON THE SILVER MOUNTAIN

Um genial riff criado por Ritchie Blackmore é a base da canção. O ritmo é bem cadenciado e a sonoridade possui a intensidade exata. É o mais puro extrato do Hard Rock setentista, contando com uma boa presença do baixo de Craig Gruber. Para coroar a faixa brilhante, Ronnie James Dio tem uma atuação exemplar e Blackmore faz um solo sensacional no meio de "Man On The Silver Mountain". Espetacular!

A letra é fantasiosa sobre um homem a que todos clamam como um deus:

I'm the man on the silver mountain
I'm the man on the silver mountain
Come down with fire
Lift my spirit higher
Someone's screaming my name
Come and make me holy again

“Man On The Silver Mountain” é um dos maiores clássicos do Rainbow.

Foi o primeiro single lançado pelo grupo, mas não obteve maior repercussão em termos de paradas de sucesso.


Entretanto, tornou-se uma das canções favoritas do público e era bastante presente nos shows do grupo.

Entre versões covers mais famosas, encontram-se as da banda espanhola Mago de Oz, da sueca HammerFall e a presente no álbum tributo lançado em 2014 This Is Your Life, a qual conta com nomes como Rob Halford e Vinny Appice.

Dio, em sua carreira-solo, manteve “Man On The Silver Mountain” como parte constante de seu set-list. Após sua morte, em 2010, seu corpo foi sepultado em Los Angeles, nos Estados Unidos, e sua sepultura contém os dizeres “The man on the silver mountain Ronnie James Dio”.



SELF PORTRAIT

A banda mantém a pegada Hard Rock na faixa seguinte, "Self Portrait". O andamento continua cadenciado em um ritmo mais lento, mas com o peso necessário para abrilhantar a música. A guitarra de Blackmore continua insana e os vocais de Dio tornam tudo mais saboroso.

A letra possui conteúdo de magia:

Down, down, down
Spin me around and around
Draw me away to the night from the day
Leave not a trace to be found
Down, down

A banda de Ricthie Blackmore, chamada Blackmore's Night, fez uma versão folk para “Self Portrait”.



BLACK SHEEP OF THE FAMILY

Em sua terceira faixa, o álbum perde um pouco do peso presente anteriormente, ganhando um ritmo mais acelerado. Trata-se de um Rock muito bem executado, mas que não mantém totalmente o nível altíssimo das canções que a precedem.

A letra fala de destino:

The hour was wrong
And my shadow's getting long
My real life's a song, don't need much
But I've got an ache in my head
I wanna go to bed
Tomorrow I don't have to wake up, no

“Black Sheep Of The Family” é uma versão para a música originalmente gravada pela banda Quatermass, presente em seu álbum homônimo de 1970.



CATCH THE RAINBOW

Uma lindíssima melodia, suave e delicada, sai da guitarra de Ritchie Blackmore e hipnotiza o ouvinte. O ritmo é bem lento, o peso desaparece, mas a sonoridade envolve e contagia. A seção rítmica faz um belo trabalho e toda a angústia das letras é transferida à sonoridade da faixa. Mas nada adiantaria se a atuação de Ronnie James Dio não fosse espetacular, contando com sua interpretação perfeita. Uma das baladas mais tocantes de todos os tempos.

A letra pode ser inferida como uma metáfora para a vida:

When evening falls
She'll run to me
Like whispered dreams
Your eyes can't see

Embora nunca tenha sido lançada como single, “Catch The Rainbow” é um dos maiores clássicos da história do Rainbow.

Melodicamente, a canção se inspira na clássica "Little Wing", do The Jimi Hendrix Experience.

A banda Opeth e o Burning Starr fizeram versões para a canção como forma de homenagear Dio após seu falecimento.



SNAKE CHARMER

O Hard Rock forte e pesado está de volta em "Snake Charmer", com Ritchie Blackmore construindo um riff inspirado, mas, simultaneamente, repleto de malícia. O grande destaque vai mesmo para o guitarrista, o qual abusa do feeling. Boa presença, também, da bateria de Gary Driscoll.

A letra é em tom de fantasia e magia:

Close your door
He's on his way
He's coming out of the shadows now, now
No hope for you, ooh
Snake charmer
Snake charmer, now listen to me yeah



TEMPLE OF THE KING

O peso some novamente e Blackmore, outra vez, cria uma melodia incrivelmente bela e suave com sua guitarra. O andamento é lento e a sonoridade quase acústica envolve o ambiente, conquistando o ouvinte. O bom gosto é gigante, mas o grande destaque vai para a atuação espetacular de Ronnie James Dio e seu vocal impecável. Outra balada de nível estratosférico.

A letra, belíssima, também é sobre fantasia e encantamento:

Back with the people in the circle
He stands
Giving, feeling
With just one touch of a strong right hand
They know
Of the temple and the king

“Temple Of The King” é mais um clássico do Rainbow.


Também foi lançada como single, mas sem maior repercussão em termos de paradas de sucesso.

Entre as versões cover para a canção, encontram-se a de bandas como Mago de Oz (com letras em espanhol), Angel Dust, Axel Rudi Pell e do Scorpions.



IF YOU DON'T LIKE ROCK 'N' ROLL

Na menor canção do álbum, o Rainbow faz um Hard Rock brilhante com muita influência do Rock dos anos 50. O resultado é um faixa simples, direta, mas totalmente contagiante. Quem brilha bastante é o teclado de Micky Lee Soule. Empolgante!

A letra fala do espírito do Rock:

That just about explained it all
Well if you don't like rock 'n' roll
If you don't like rock 'n' roll
Well if you don't like rock 'n' roll
Then you're too late now
Then you're too late now



SIXTEENTH CENTURY GREENSLEEVES

Abusando de um ritmo mais lento, mas encontrando a cadência perfeita, o Rainbow apresenta a canção mais pesada presente no disco. A guitarra de Blackmore está brilhante, executando um solo sensacional exatamente no meio da faixa. Os vocais de Dio se casam de maneira simbiótica com a musicalidade apresentada. Outro momento incrível do trabalho!

A letra envolve um clima medieval:

It's only been an hour
Since he locked her in the tower
The time has come
He must be undone
By the morning



STILL I'M SAD

A nona - e última - faixa de Ritchie Blackmore's Rainbow é "Still I'm Said". O andamento é mais rápido, com a presença de pouco peso, e a guitarra de Ritchie Blackmore dá todas as cartas nesta canção. Encerra bem o álbum.

É um cover instrumental da faixa “Still I'm Sad”, da banda The Yardbirds, presente no álbum Having a Rave Up with The Yardbirds, de 1965.



Considerações Finais

Embora os singles não tenham feito mais barulho, o álbum foi bem em termo de paradas de sucesso.

O disco acabou atingindo a muito boa 11ª posição da principal parada britânica de sucessos, conquistando a 30ª colocação na correspondente norte-americana. Ainda ficou com os 10º e 24º lugares nas paradas de Noruega e Suécia, respectivamente.

O lançamento do vinil original possuía uma capa bem caprichada, embora reedições posteriores sob orçamento reduzido saíram com uma capa simples.

Muitas canções do álbum eram tocadas por line-ups posteriores do Rainbow. O álbum foi amplamente elogiado por seu conteúdo lírico de fantasia/heróico e pelo estilo de rock inovador.

O vocalista Ronnie James Dio considerou seu álbum favorito do Rainbow.

Apesar do título, implicando o disco ser um lançamento solo de Ritchie Blackmore, em anos posteriores, Blackmore tem brincado declarando que as contribuições de Dio garantiriam um rebatismo do trabalho como "Ritchie Blackmore and Ronnie James Dio' Rainbow".

Após as gravações do álbum, o restante da banda que era o Elf retornou para finalizar seu terceiro disco de estúdio, Trying to Burn the Sun, que foi lançado em junho de 1975.

Ronnie James Dio continuaria com o Rainbow e o Elf encerrava suas atividades por ali.

Dio e Blackmore fizeram a promoção do álbum. Logo depois de seu lançamento, Blackmore não ficou feliz em transportar todo o line-up do Elf junto para as performances ao vivo. Assim, o guitarrista demitiu todo mundo do grupo, exceto Dio.

Entre suas razões, Driscoll teria sido demitido por seu estilo R&B de tocar bateria e Gruber, devido ao seu jeito 'funkeado' no baixo.

Desta forma, a primeira formação do Rainbow, a qual gravou seu primeiro álbum, nunca fez um show juntos. A intensa troca de integrantes seria uma constante nos anos subsequentes do Rainbow.

Para a primeira turnê mundial, que se iniciou em 10 de novembro de 1975, Blackmore recrutou o baixista Jimmy Bain, o tecladista Tony Carey e o baterista Cozy Powell, o qual já havia trabalhado com Jeff Beck.

Esta também seria a formação que gravaria o segundo álbum da banda, o inesquecível Rising (1976).


Formação:
Ronnie James Dio - Vocal
Ritchie Blackmore - Guitarra
Micky Lee Soule - Piano, Mellotron, Órgão
Craig Gruber - Baixo
Gary Driscoll - Bateria
Músico Adicional:
Shoshana - Backing Vocals

Faixas:
01. Man on the Silver Mountain (Blackmore/Dio) - 4:42
02. Self Portrait (Blackmore/Dio) - 3:17
03. Black Sheep of the Family (Hammond) - 3:22
04. Catch the Rainbow (Blackmore/Dio) - 6:27
05. Snake Charmer (Blackmore/Dio) - 4:33
06. Temple of the King (Blackmore/Dio) - 4:45
07. If You Don't Like Rock n' Roll (Blackmore/Dio) - 2:38
08. Sixteenth Century Greensleeves (Blackmore/Dio) - 3:31
09. Still I'm Sad (Samwell-Smith/McCarty) - 3:51

Letras:
Para o conteúdo completo das letras, recomenda-se o acesso a: http://letras.mus.br/rainbow/

Opinião do Blog:
O Rainbow atingiu seu momento de maior sucesso comercial no início da década de 80, contando com uma sonoridade com mais influência Pop e uma abordagem mais ampla de sua música. Alguns bons trabalhos foram lançados, mas o momento apontado neste post é outro.

Embora não coincida com seu apogeu comercial, para o Blog, o ápice criativo e musical do Rainbow foi nos seus trabalhos iniciais, quando os gênios de Ritchie Blackmore e Ronnie James Dio se encontraram e produziram músicas que entraram para a história do Rock.

Ritchie Blackmore deixou o Deep Purple e sua união com praticamente todo o Elf, formando o Rainbow, mostrou-se a atitude mais que correta. O grupo se tornaria uma referência dentro do Hard Rock produzido naquela época.

Músicos experiente e com boa qualidade, Gary Driscoll, Micky Lee Soule e Craig Gruber fazem sua parte de maneira competente, contribuindo decisivamente para a qualidade do que se ouve. Mas, obviamente, a missão deles é preparar o terreno para que as duas estrelas da banda brilhem.

Inicialmente planejado para se tornar um trabalho solo de Ritchie Blackmore, é claro que a guitarra é um grande destaque no disco. Os solos esbanjam o talento incomum de Ritchie, transbordando técnica, feeling e muita sensibilidade. Os riffs e melodias criados pelo guitarrista neste álbum estão entre os melhores que Blackmore fez surgir em sua incrível carreira.

Mas, apesar de tudo isso, quem rouba a cena é o vocalista Ronnie James Dio. Sem a atuação monumental e impecável do baixinho de voz gigantesca, o resultado não seria tão impactante. Dio transmite uma incrível emoção com sua interpretação, casando seus vocais perfeitamente com a parte instrumental.

As letras abusam da temática fantástica, mas podem ser transportadas para a realidade, fazendo um arcabouço perfeito para a obra.

Ritchie Blackmore's Rainbow é um dos discos de estreia preferidos do Blog e só não está mais em alta conta por causa dos 2 covers presentes no álbum. Não são mal tocados e executados, longe disso, mas acabam destoando do restante do material.

O trabalho apresenta algumas pauladas com o melhor que o Hard Rock setentista produziu. "Self Portrait" e "Sixteenth Century Greensleeves" são aulas de peso e melodia. "If You Don't Like Rock N' Roll" é um banho de criatividade e "Man On The Silver Mountain" é um clássico da música dos anos 70.

Não bastassem estas pérolas, o álbum ainda traz a belíssima "Temple Of The King", a qual abusa da sensibilidade melódica de Ritchie Blackmore. E há espaço para "Catch The Rainbow", com uma atuação magnífica de Dio, uma das mais lindas baladas da história da música.

É até difícil de imaginar que o Rainbow ainda faria melhor em seus álbuns seguintes, especialmente no extraordinário Rising, lançado em 1976. Mas o álbum de estreia do grupo é uma aula de Hard Rock setentista, contando com canções inspiradas e que influenciariam um incontável número de bandas que surgiriam posteriormente. É o disco que marca uma das melhores uniões de talentos da história do Rock, entre Blackmore e Dio. Obrigatório para fãs de boa música!

4 de dezembro de 2015

SAXON - WHEELS OF STEEL (1980)


Wheels Of Steel é o segundo álbum de estúdio da banda inglesa Saxon. Seu lançamento oficial aconteceu em 5 de maio de 1980 através do selo Carrere Records. As gravações ocorreram no mês de fevereiro de 1980, no Ramport Studios, em Londres, na Inglaterra. A produção ficou a cargo da própria banda em conjunto com Pete Hinton.


O Saxon é um dos expoentes da New Wave Of British Heavy Metal, ou NWOBHM, movimento que revolucionou o estilo no início dos anos 80 e deu ao mundo grupos do calibre de Iron Maiden, Diamond Head e Saxon, por exemplo.

O Blog já tratou das origens do Saxon no post sobre o álbum Power & TheGlory. Portanto, o texto aqui vai se ater aos acontecimentos que precedem o lançamento de Wheels Of Steel.

Em 21 de maio de 1979, o Saxon lançava seu primeiro álbum de estúdio, homônimo à banda, através do selo Carrere Records, propriedade do francês Claude Carrere.

O selo começou a se interessar pelo rock pesado naquela época e o Saxon foi a primeira banda de Heavy Metal no catálogo da gravadora.

O primeiro trabalho da banda evidentemente apresenta um grupo ainda inexperiente em matéria de estúdio de gravação, mas com apetite para crescer.

Biff Byford
E o disco traz ótimas canções como “Big Teaser" e "Still Fit to Boogie", a belíssima “Frozen Rainbow” e o clássico “Stallions of the Highway”, esta uma pérola na discografia da banda.

O primeiro single retirado do álbum foi “Big Teaser”, que embora tenha agradado ao público de Haevy Metal, não causou maior repercussão na principal parada de sucesso do Reino Unido.

“Backs To The Wall” foi escolhida como o segundo single para promover o álbum de estreia do Saxon e também passou em branco em termos de paradas de sucesso.

Entretanto, o single foi lançado para coincidir com uma turnê britânica como convidados especiais do Motörhead.

A turnê, a qual começou em 10 de novembro de 1979, no Bracknell Sports Centre, levou a banda a todos os principais locais de shows de todo o Reino Unido, incluindo três noites no mais que emblemático Hammersmith Odeon, em Londres.

A 'tour' terminou em 16 de dezembro, no concerto de natal especialmente organizado no mesmo Hammersmith Odeon.

Mesmo assim, o álbum de estreia do Saxon não foi um sucesso comercial e nem em termos de paradas de sucesso, mas sua turnê promocional se provou fundamental na divulgação da banda para um público muito maior.

Assim, já na virada para 1980, logo em fevereiro, a banda foi para Londres gravar seu segundo álbum de estúdio.

Steve Dawson
O estúdio escolhido foi o Ramport Studios.

A produção ficou a cargo de Pete Hinton e do próprio Saxon. A capa é bem legal. Vamos às faixas:

MOTORCYCLE MAN

Um típico riff de Heavy Metal tradicional abre o álbum, em "Motorcycle Man". A bateria frenética de Pete Gill também é uma das marcas profundas da canção. Os bons vocais de Biff Byford são fundamentais para a qualidade do que se ouve. Ótimo início.

A letra é simples, falando de paixão por motocicletas:

If you see me riding by
Do not stop me, do not try
'Cause I'm a motorcycle man
I get my kicks just when I can
When I can



STAND UP AND BE COUNTED

O peso tradicional do Heavy Metal continua na segunda faixa do disco, mas, desta feita, o Saxon opta por um ritmo mais cadenciado, apostando no andamento mais lento da canção. Isto não afeta em nada a qualidade da composição. O riff principal é ótimo, assim como o solo de guitarra também o é. O nível do álbum se mantém muito alto.

A letra conclama as pessoas a lutarem por seus direitos:

Down, down at the bottom
Ya gotta try to get yourselves up
Ya got nothing to lose when your there
There at the bottom
Ya gotta stand up
Stand up for your rights



747 (STRANGERS IN THE NIGHT)

A terceira faixa do álbum começa com um inspirado solo de guitarra, abusando do feeling e do bem gosto. Desta vez, a banda flerta com o Hard Rock e abusa de um riff principal muito bom. O ritmo é mais lento e o peso não está tão pronunciado. O refrão é excelente, sendo constituído pelo momento mais suave dentro da canção. Enfim, uma composição de primeira linha!

A letra conta a história do voo Scandinavian 101:

This is Scandinavian 101
Flight from Hawaii coming out of the sun
Kennedy, you should be in sight
We can't see a thing here in the night
Navigator says we're on the flight path
There's no radio, no sign of life
This is Scandinavian 101
For Gods sake get the ground lights on

“747 (Strangers In The Night)” é um dos maiores clássicos da história do Saxon.

Lançada como single, atingiu a 13ª posição da principal parada britânica desta natureza.


Liricamente, a canção é sobre um corte de energia que forçou aviões em New York para permanecer no ar, em 1965. A queda de energia acabou provocando que um voo da Scandinavian Airlines acabasse por se desviar para o aeroporto de Kennedy no escuro.

O voo mencionado na letra, "Scandinavian 101 ", era na verdade o Scandinavian Airlines 911. A questão causou uma grande revisão na segurança e apoiou o futuro de tanques de combustível de reserva.

“747 (Strangers In The Night)” é uma das pouquíssimas canções do Saxon que sempre estiveram presentes nas turnês do grupo desde seu lançamento.



WHEELS OF STEEL

Um riff que praticamente sintetiza o que é a New Wave Of British Heavy Metal. Assim se dá o início de um dos clássicos do estilo, "Wheels Of Steel". O ritmo é mais cadenciado e o peso está na dose certíssima, sendo um fator apenas para acrescentar o brilhantismo da canção. O toque final para se atingir a perfeição é uma atuação soberba de Biff Byford, conquistando o ouvinte com sua voz marcante e interpretação impactante. Faixa extraordinária!

A letra é sobre velocidade:

I'm burnin' aviation fuel my foot's to the floor
Ya know she's crusin one-forty she'd do even more
I'm burnin' solid rubber I don't take no bull
'Cause my wheels of steel are rolling
They're rolling your way

“Wheels Of Steel” é outro clássico incontestável da banda.


Lançada como single, atingiu a 20ª posição da principal parada britânica desta natureza.

É outra canção que permanece constantemente no set list do grupo, pois é simplesmente adorada pelos fãs.

Está presente em games como: Grand Theft Auto: Episodes From Liberty City (Grand Theft Auto IV: The Lost and Damned e Grand Theft Auto: The Ballad of Gay Tony) e também em Brütal Legend.

A banda LA Guns também fez uma famosa versão cover presente no álbum Rips the Covers Off, de 2004.



FREEWAY MAD

"Freeway Mad" é a menor música do álbum, com pouco mais de 2 minutos de extensão. Após uma curta introdução na bateria de Gill, o ritmo fica muito veloz, indo direto ao ponto, graças a um riff bastante rápido.

A letra é novamente sobre carros e velocidade:

I'm going down the freeway
Never gonna get me out
Steaming like a freight train
Gonna blow my pistons out




SEE THE LIGHT SHINING

O ritmo continua bastante intenso e veloz, como na faixa anterior, em "See The Light Shining". O Heavy Metal tradicional é, obviamente, a proposta em uma música que apresenta um riff simples, mas que funciona perfeitamente. A seção rítmica faz bem seu papel. Os solos de guitarra são muito bons. Após sua metade, o Saxon surpreende o ouvinte, alternando o andamento da canção, optando por reduzir a velocidade e o peso, baseando-se em um riff cadenciado e mais melódico. Bem interessante.

A letra é sobre esperança:

I'm dyin', I'm dyin'
There ain't no use in tryin'
I'm gonna keep on livin' till the light's
Shining down on you
Burnin' right in
Ya can't stop when you're winning
I'm gonna show my head make history



STREET FIGHTING GANG

O Heavy Metal continua pulsando em "Street Fighting Gang". O ritmo veloz e o peso na dose certa dão à composição a intensidade perfeita para os fãs do estilo. O destaque vai mesmo para a dupla de guitarristas, os quais brilham com riffs e solos.

A letra mostra uma rebeldia juvenil:

I don't need no spelling
I take my winning when I'm ready
But you wouldn't be alike
When we learn to fight
When we start to roam
Then you'd better stay home
'Cause I'm a member of the street elite
You know it's trouble to all we meet




SUZIE HOLD ON

O baixo de Steve Dawson está ainda mais presente em "Suzie Hold On", dando ainda mais ênfase à qualidade da composição. A intensidade é mais leve, flertando com o Hard Rock. O ritmo é mais lento e cadenciado, contando com uma melodia muito envolvente. Biff Byford tem outra atuação fenomenal.

A letra é uma mensagem de perseverança:

When we were far apart
No one could be closer
Please don't take your life
'Cause that would break my heart
Try to stop your crying
We both know you're dying, dying
Suzie hold on

“Suzie Hold On” foi o último single lançado para promover Wheels Of Steel, mas não repercutiu em termos das principais paradas de sucesso.



MACHINE GUN

A nona - e última - faixa de Wheels Of Steel é "Machine Gun". Um riff veloz, contundente e certeiro é a base inicial da composição que encerra os trabalhos. Abusando da típica sonoridade de seu tempo e a qual é marca registrada do grupo, o Saxon brinda o ouvinte com um excelente Heavy Metal. Os solos de guitarra são saborosos e a banda fecha o álbum de maneira empolgante.

A letra é sobre uma batalha:

Move in to the front underhanded fire
Hear the bullets flying millions every hour
Tracers in the night shooting across the sky
For God's sake cover me I don't wanna die



Considerações Finais

Singles bem sucedidos geralmente resultam em álbuns igualmente de sucesso e no caso de Wheels Of Steel não foi diferente.

“747 (Strangers In The Night)” e “Wheels Of Steel” catapultaram o álbum no Reino Unido, atingindo a 5ª colocação na principal parada de discos britânica, embora não tenha repercutido em sua correspondente norte-americana. Ficou, ainda, com a 36ª posição na parada sueca.

Logo o Saxon começou uma série de turnês de longa duração em todo o Reino Unido.

Em abril de 1980, o Saxon fez a primeira de muitas aparições no lendário programa da TV britânica, Top of the Pops, onde tocou o hit single "Wheels of Steel".

Em 16 de agosto de 1980, o Saxon apareceu no primeiro festival Monsters of Rock, onde o grupo recebeu uma recepção muito positiva da multidão. O show da banda foi gravado, mas não foi lançado oficialmente até o ano de 2000.

O álbum recebeu críticas muito positivas pela imprensa especializada e é considerado hoje como sendo um álbum clássico do Heavy Metal e que auxiliou a definir o gênero.

O revisor canadense Martin Popoff elogia Wheels of Steel como um "clássico qualificado" e "um, dos realmente dois ou três, pilares da (NWOBHM)".

Eduardo Rivadavia, do Allmusic, dá ao álbum a nota 4,5 de um total de 5, afirmando: “Bem como efetivamente definiu o modelo para os esforços de maior sucesso da banda, as canções do álbum brilharam positivamente, com o brilho metálico semelhante ao exibido pela águia de cromo que iça uma roda de motocicleta em sua capa icônica.”

Wheels Of Steel supera a casa de 300 mil cópias vendidas apenas na Inglaterra.



Formação:
Biff Byford - Vocal
Graham Oliver - Guitarra
Paul Quinn - Guitarra
Steve Dawson - Baixo
Pete Gill - Bateria

Faixas:
01. Motorcycle Man (Byford/Oliver/Quinn/Dawson/Gill) - 3:56
02. Stand Up and Be Counted (Byford/Oliver/Quinn/Dawson/Gill) - 3:09
03. 747 (Strangers in the Night) (Byford/Oliver/Quinn/Dawson/Gill) - 4:58
04. Wheels of Steel (Byford/Oliver/Quinn/Dawson/Gill) - 5:58
05. Freeway Mad (Byford/Oliver/Quinn/Dawson/Gill) - 2:41
06. See the Light Shining (Byford/Oliver/Quinn/Dawson/Gill) - 4:55
07. Street Fighting Gang (Byford/Oliver/Quinn/Dawson/Gill) - 3:12
08. Suzie Hold On (Byford/Oliver/Quinn/Dawson/Gill) - 4:34
09. Machine Gun (Byford/Oliver/Quinn/Dawson/Gill) - 5:23

Letras:
Para o conteúdo completo das letras, recomenda-se o acesso a: http://letras.mus.br/saxon/

Opinião do Blog:
É óbvio que o Saxon é uma banda muito conhecida entre os fãs de vertentes mais pesadas do Rock, mas o Blog pensa que o grupo britânico merecia um reconhecimento bem maior junto ao público em geral.

A extensa e valorosa discografia do Saxon proporciona momentos de prazer para os ouvintes fãs de Heavy Metal e deve ser apreciada sem moderação. E, no início da década de 80, nos primeiros momentos da banda, o conjunto transbordava inspiração, propiciando o surgimento de álbuns que são verdadeiras aulas sobre New Wave Of British Heavy Metal (NWOBHM).

E Wheels Of Steel, se não fizer parte de seu ápice, é muito próximo do melhor que aquele movimento de bandas conseguiu registrar.

Os músicos que compunham a formação que gravou este álbum aqui apresentado é muito boa e eficiente dentro do estilo proposto pelo Saxon. As guitarras aparecem de maneira bem gratificante e o brilho especial é dado pela atuação impecável do vocalista Biff Byford, responsável direto por elevar as composições a um nível ainda mais elevado.

As letras também são interessantes e merecem uma conferida.

Wheels Of Steel é um dos marcos fundamentais da NWOBHM e, como tal, não possui canções sequer medianas. Todas as suas faixas são boas e formam um grande álbum de Heavy Metal.

Flertando, mesmo que de maneira suave, com o Hard Rock, tem-se duas canções muito interessantes e de qualidade extra, como "747 (Strangers In The Night)" e "Suzie Hold On". Transbordando potência e poder aparece "Machine Gun", a qual fecha o álbum com a intensidade em níveis altíssimos.

E o disco ainda conta com a emblemática faixa-título, "Wheels Of Steel", a canção símbolo da banda, constituinte do DNA do grupo britânico e um clássico indiscutível de todo o Heavy Metal tradicional.

Enfim, o Saxon é um dos grupos fundamentais da NWOBHM e de todo o Heavy Metal em geral. Wheels Of Steel é um de seus álbuns mais emblemáticos e demonstra uma banda em um ponto muito próximo de seu ápice criativo. Álbum extremamente recomendado e um dos preferidos do Blogeiro, sendo obrigatório para fãs da vertente mais pesada do Rock.

9 de novembro de 2015

FREE - FREE (1969)


Free é o segundo álbum de estúdio da banda britânica de mesmo nome, ou seja, o Free. Seu lançamento oficial ocorreu em outubro de 1969 pelo selo Island Records. As gravações se deram entre janeiro e junho daquele mesmo ano, nos estúdios Morgan Studios e Trident Studios, em Londres, na Inglaterra. A produção ficou por conta de Chris Blackwell.

O Blog tem como um de seus melhores posts aquele sobre o álbum Fire And Water (1970), justamente do Free, que pode ser visto aqui. Brevemente, far-se-á uma pequena introdução sobre o grupo para depois se analisar o álbum.


Tons Of Sobs, primeiro álbum do Free, foi lançado no Reino Unido em 14 de março de 1969. O estilo proposto em sua estreia é predominantemente o Blues Rock.

Embora o álbum não houvesse conseguido repercutir nas paradas de sucesso do Reino Unido, chegou ao humilde 197º lugar nos Estados Unidos.

O Free era uma nova banda quando gravou Tons Of Sobs e seus músicos eram extremamente jovens; nenhum deles havia feito vinte anos e o mais jovem, o baixista Andy Fraser, estava com apenas 16 anos de idade.

O grupo havia conseguido uma boa experiência através de constantes turnês, sendo que seu álbum de estreia consistiu na maior parte de seu set-list ao vivo.

Quando a banda assinou contrato com a Island Records, de Chris Blackwell, Guy Stevens foi contratado para produzir o álbum (e ele mais tarde se tornaria inesquecível produzindo os primeiros álbuns do Mott the Hoople e do lendário álbum do The Clash, London Calling, de 1979).

Andy Fraser
Ele optou por uma atitude minimalista na produção, muito devido ao extremamente baixo orçamento de cerca de 800 libras, criando um som muito cru e estridente. Embora a relativa inexperiência da banda, com estúdios, também fosse um fator que contribuiu para o resultado final da produção.

Mesmo assim, o trabalho traz canções memoráveis como “Walk In My Shadow” e “I'm A Mover”.

Mas o Free conquistaria o público através de suas performances impressionantes nos shows da banda.

Na turnê para divulgar seu primeiro trabalho, o Free faria shows de abertura para o Blind Faith (de Eric Clapton) no Reino Unido e depois seguindo para a Europa onde fariam a abertura de bandas como Spooky Tooth e Jethro Tull.

Entre a turnê de divulgação para seu trabalho de estreia, o Free intercalava sessões de estúdio já trabalhando para seu segundo disco, desta feita autointitulado.

Há uma diferença marcante na musicalidade da banda para seu segundo trabalho, bem como na voz de Paul Rodgers. Se Tons Of Sobs havia sido produzido por Guy Stevens, Free foi produzido pelo próprio chefe da Island Records, Chris Blackwell.

Este álbum viu o florescimento da parceria musical entre Paul Rodgers e o baixista Andy Fraser, que havia sido vislumbrado em Tons Of Sobs em canções como “I'm A Mover”, sendo que oito das nove faixas são creditadas à parceria Fraser e Rodgers.

Possivelmente, como um dos resultados da influência de Fraser como compositor, o baixo é muito mais proeminente neste trabalho em relação ao álbum anterior. O instrumento é usado como uma guitarra-base, dirigindo as músicas, enquanto a guitarra de Kossoff se desenvolve a partir dele.

O álbum é notável por sua capa extremamente inovadora e impressionante, creditada a Ron Rafaelli, da The Visual Thing Inc. Ele é destaque no livro 100 Best Album Covers, ao lado de exemplos mais conhecidos, como a lendária capa, de autoria de Peter Blake, para Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band (1967), dos Beatles.

Paul Rodgers
Rafaelli fez a capa fotografando sua modelo com luzes estroboscópicas para fazer uma silhueta de encontro a um fundo, no qual poderia, então, sobrepor um design.

Assim, o álbum tem um design de uma mulher feita de estrelas pulando em todo o céu. O nome da banda é impresso em letras extremamente pequenas na parte superior da capa (desta forma, como o formato CD é muito menor que o LP, isso o torna quase ilegível no primeiro).

Vamos às faixas:

I'LL BE CREEPIN'

Um bom riff é a base da primeira faixa do álbum Free. O baixo de Andy Fraser está bastante proeminente e domina o ambiente. A pegada Bluesy é muito marcante e o ritmo cadenciado encanta. A atuação vocal de Paul Rodgers é impecável. O solo principal da guitarra de Paul Kossoff esbanja talento. Faixa incrível!

A letra é sobre desilusão amorosa:

Take all you things and move far away
Take all your furs and rings baby
But don't you sing hurray
You can change your address
But you wont get far
Don't make no difference wherever you are
Yeah 'cos I'll be creepin' baby
And I'll be creeping 'round your door


“I'll Be Creepin'” foi lançada como single, mas não obteve maior repercussão em termos de paradas de sucesso.



SONGS OF YESTERDAY

Outra vez em um ritmo bem cadenciado, "Songs Of Yesterday" traz o baixo de Andy Fraser como o principal destaque da canção, em uma posição dominante. Quem também brilha é o baterista Simon Kirke, fazendo um ótimo trabalho. Kossoff transborda feeling nos solos e Rodgers tem outra grande atuação nos vocais.

A letra possui alto teor de melancolia:

Sad song
Then i'll get on
On my way
Just like a song of yesterday
Listen to what i'm gonna say



LYING IN THE SUNSHINE

Uma lenta e suave melodia é a marca inicial da terceira composição presente no disco. O andamento arrastado traz um clima melancólico para a música, mas longe de ser ruim. Paul Rodgers opta por uma atuação vocal mais sóbria e contida e que se casa de maneira eficiente com o instrumental. A faixa demonstra uma faceta mais intimista do conjunto.

A letra possui sentido de leveza:

So let us lie in the sun
Let us dream all alone
Let our worries fly away
So happy here
So let me stay



TROUBLE ON DOUBLE TIME

O Rock com forte influência de Blues está de volta em "Trouble On Double Time". Aqui a guitarra de Paul Kossoff está mais ativa, embora o baixo de Andy Fraser ainda se sobressaia de maneira bastante acentuada. Kossoff destrói em outro solo muito bom. Mais um grande momento do álbum.

A letra é simples e se refere à fidelidade:

You know my school teacher
Told me before i left school
That a man with two women's
Not a man but a fool



MOUTHFUL OF GRASS

"Mouthful Of Grass" é uma faixa instrumental, a qual é dominada por um andamento arrastado e preenchida por um sentimento bastante bucólico. Há uma certa influência celta na melodia da canção, na qual se destacam Fraser e Kossoff.



WOMAN

"Woman" traz novamente uma pegada Bluesy, mas com uma dose surpreendente de peso, flertando muito proximamente com o Hard Rock da década seguinte. Desta maneira, a guitarra de Paul Kossoff brilha intensamente, sobre uma base perfeita construída por Fraser e Kirke. Como toque final, outra brilhante atuação de Rodgers. Faixa sensacional!

A letra é divertida e tem teor de interesse:

Marry me today
I'll give you everything, except my car, baby
Marry me today
I'll give you everything, but my guitar
But my guitar and my car



FREE ME

A introdução de "Free Me" apresenta o baixo de Fraser ainda mais dominante, em um clima tenso e obscuro. A voz de Rodgers contribui decisivamente para este aspecto sombrio apresentado pela canção. Kossoff faz um solo minimalista por volta dos dois minutos e meio que extrapola no feeling. Uma composição com forte influência Blues/Soul em um momento interessantíssimo do disco.

A letra intercala amor e sofrimento:

Morning comes
And the evening follows
Life without you
Knows no tomorrow
You leave me weary
And you leave me tired
But you fill my soul
With strange desire
But I love you babe
Yes I love all of you



BROAD DAYLIGHT

"Broad Daylight" talvez seja a faixa mais conhecida do álbum Free. A canção apresenta a guitarra de Paul Kossoff imprimindo peso e intensidade em um novo toque no Hard Rock. A melodia apresentada é belíssima, envolve o ambiente, catalisada pela monumental atuação de Paul Rodgers. O solo da guitarra de Kossoff é incrível. Um clássico.

A letra é uma mensagem de esperança:

Now the clock says it's time for bed
Time for sleep the moon just said
Time for tears in your dreams
Will the tears all disappear come


“Broad Daylight” é um dos maiores clássicos do Free. Mesmo assim, lançada como single, não conseguiu repercutir nas principais paradas de sucesso.



MOURNING SAD MORNING

A nona - e última - faixa de Free é "Mourning Sad Morning". Logo no início é possível ouvir a flauta de Chris Wood, um dos fundadores da banda Traffic. Trata-se de outra canção com uma pegada mais leve e lenta, mas desta feita com uma musicalidade bastante triste e melancólica. Rodgers casa de maneira perfeita seu vocal com a sonoridade e é o maior destaque da música.

A letra possui sentido romântico:

In the evening i sit
And my thoughts they turn to you
In the evening i think of my home
And i need you to remember
All the love we used to know
Think of me sometimes
My love



Considerações Finais

Com seus singles causando pouco (ou mesmo nenhum) barulho, o álbum não foi nada bem, comercialmente falando, em seu período de lançamento.

Mesmo assim, atingiu a modesta 22ª posição na principal parada de sucesso britânica, mas não repercutiu nada na correspondente norte-americana.

Mas, com o passar do tempo e o Free se tornando conhecido – bem como seus membros no decorrer de suas próprias carreiras – o álbum Free passou a ser admirado e muito respeitado. Tanto que a banda Three Dog Night fez versões cover de “I'll Be Creepin'” e “Woman”.

Ao mesmo tempo, enquanto Fraser e Rodgers fortaleciam uma parceria como compositores, as tensões dentro da banda aumentavam.

Kossoff, cuja espontaneidade natural tinha sido alimentada até então, particularmente, ressentia-se em ser obrigado a seguir rigidamente partes muito específicas da guitarra-base criadas por Fraser.

Foi um período estranho que viu ambos, Kossoff e o baterista Simon Kirke, chegarem perto de deixarem a banda.

Só a intervenção sempre diplomática do chefe da gravadora, Chris Blackwell, parece ter evitado isso, assim como manteve a banda disciplinada e focada na gravação do disco.

Dave Thompson, do Allmusic, dá ao álbum uma nota 4 de um 5 máximo possível, apontando o disco como uma referência no Blues Rock britânico.

Apesar dos problemas, a banda continuou junta, fazendo turnês e se mantendo sempre exibindo seu talento em shows durante todo o ano de 1969.

Assim, entre um show e outro, o grupo entra o ano de 1970 já compondo e fazendo gravações do que seria seu terceiro álbum de estúdio, Fire And Water.


Formação:
Paul Rodgers - Vocal
Paul Kossoff - Guitarra
Andy Fraser - Baixo
Simon Kirke - Bateria

Faixas:
01. I'll Be Creepin' (Fraser/Rodgers) – 3:27
02. Songs of Yesterday (Fraser/Rodgers) – 3:33
03. Lying in the Sunshine (Fraser/Rodgers) – 3:51
04. Trouble on Double Time (Fraser/Rodgers/Kirke/Kossoff) – 3:23
05. Mouthful of Grass (Fraser/Rodgers) – 3:36
06. Woman (Fraser/Rodgers) – 3:50
07. Free Me (Fraser/Rodgers) – 5:24
08. Broad Daylight (Fraser/Rodgers) – 3:15
09. Mourning Sad Morning (Fraser/Rodgers) – 5:04

Letras:
Para o conteúdo completo das letras, recomenda-se o acesso a: http://letras.mus.br/free/

Opinião do Blog:
Certamente o Free não teve o sucesso que merecia e, até hoje, permanece uma banda não tão conhecida do público em geral, ao menos no Brasil. Mas trata-se de uma das formações mais talentosas da história do Rock.

Seus álbuns iniciais, como o que está apresentado neste post, mostra uma banda com forte influência do Blues norte-americano, fundindo-o de maneira especial com sua forte veia Rock. Mais que isto, já em Free, a banda apresenta pequenos toques do Hard Rock sensacional que apresentaria no futuro, como no álbum Fire And Water (1970).

Saber que se tratavam de adolescentes gravando este trabalho de tanta qualidade realmente causa espanto. O baixo de Andy Fraser está o tempo todo presente, criando a base sobre a qual a guitarra de Paul Kossoff desfila todo o talento do músico. Tudo isto é recheado com uma atuação impecável de Paul Rodgers, um vocalista muito acima da média.

As letras são simples, mas não comprometem a qualidade do trabalho.

O álbum Free ainda não representa o ápice do conjunto homônimo, mas é um disco de qualidade muito alta. As composições são fortes e de um bom gosto absurdo.

A Bluesy "I'll Be Creepin'" encanta com seu ritmo lento e forte, bem como em "Songs Of Yesterday". As baladas com toques melancólicos funcionam de maneira muito eficiente como em "Lying In The Sunshine" e em "Mourning Sad Morning".

Ainda há a incrível e pesada "Broad Daylight", um clássico inconteste da banda. Sem falar em "Woman", uma das melhores composições do catálogo do grupo.

Enfim, o Free era uma banda composta por músicos muito jovens, mas com um talento extraordinário para suas baixas idades. Seu segundo trabalho apresenta um grupo desenvolvendo sua identidade musical, demonstrando canções inspiradas e de muito bom gosto, apontando para um futuro que seria brilhante. Álbum muito bem recomendado pelo Blog!