23 de novembro de 2022

SEPULTURA - BENEATH THE REMAINS (1989)

 


Beneath the Remains é o terceiro álbum de estúdio da banda brasileira chamada Sepultura. O seu lançamento oficial aconteceu em 7 de abril de 1989, através do selo Roadrunner. As gravações ocorreram entre 15 e 28 de dezembro de 1988, nos estúdios Nas Nuvens, no Rio de Janeiro, Brasil. A produção ficou a cargo de Scott Burns e da própria banda.


O RAC abre novamente suas páginas para a fantástica banda brasileira Sepultura com um de seus melhores álbuns.





Formação


O Sepultura foi formado em 1984, em Belo Horizonte, capital de Minas Gerais, Brasil. A banda foi fundada pelos irmãos Max e Igor Cavalera, filhos de Vânia, uma modelo, e Graciliano, um diplomata italiano abastado cujo ataque cardíaco fatal deixou sua família em ruínas financeiras.


A morte de Graciliano afetou profundamente seus filhos, inspirando-os a formar uma banda em um dia depois que Max ouviu o álbum Vol. 4 , do Black Sabbath. Eles escolheram o nome da banda Sepultura quando Max traduziu a letra da música do Motörhead "Dancing on Your Grave".


As primeiras influências dos irmãos incluíam Led Zeppelin, Black Sabbath e Deep Purple, e artistas de metal e hard rock do início dos anos 80, como Van Halen, Iron Maiden, Motörhead, AC/DC, Judas Priest, Ozzy Osbourne e V8.


Eles viajavam para uma loja de discos em São Paulo que mixava fitas dos últimos discos de bandas americanas. Seus hábitos de escuta mudaram drasticamente depois de serem apresentados ao Venom.


Os irmãos Cavalera começaram a ouvir bandas de metal mais extremas na época, como Hellhammer, Celtic Frost, Kreator, Sodom, Slayer, Megadeth, Exodus e Exciter. Eles também tiveram influências no metal brasileiro de bandas como Stress, Sagrado Inferno e Dorsal Atlântica. Em 1984, os irmãos abandonaram a escola.


Após várias mudanças iniciais de membros, o Sepultura se estabeleceu uma formação estável com Max na guitarra, Igor na bateria, o vocalista Wagner Lamounier e o baixista Paulo Jr. Lamounier saiu do conjunto em março de 1985 após desentendimentos com a banda, e passou a se tornar o líder da banda brasileira pioneira de black metal Sarcófago


Após sua partida, Max assumiu as funções vocais. Jairo Guedes foi convidado a integrar a banda como guitarrista principal.


Max



Primeiros passos


Após cerca de um ano de apresentações, o Sepultura assinou contrato com a Cogumelo Records em 1985. Mais tarde, naquele ano, eles lançaram Bestial Devastation, um EP compartilhado com a banda brasileira Overdose.


Bestial Devastation foi gravado e autoproduzido em apenas dois dias. A banda gravou seu primeiro álbum completo, Morbid Visions, em agosto de 1986 e que continha seu primeiro hit, "Troops of Doom", que ganhou alguma atenção da mídia. A banda então decidiu se mudar para uma cidade maior: São Paulo.


Sequência


No início de 1987, Jairo Guedz saiu da banda. Guedz foi substituído pelo guitarrista de São Paulo Andreas Kisser, e o grupo lançou seu segundo álbum de estúdio, Schizophrenia, no final daquele ano. O álbum refletiu uma mudança estilística em direção a um som mais thrash metal, mantendo os elementos de death metal de Morbid Visions.


Schizophrenia foi uma melhoria na produção e no desempenho e tornou-se uma sensação para a crítica menor em toda a Europa e América, bem como uma importação muito procurada. A banda enviou fitas para os Estados Unidos que fizeram playlists de rádio em um momento em que eles estavam lutando para agendar shows, porque os donos de clubes tinham medo de reservá-los devido ao seu estilo.


Entretanto, a banda ganhou atenção da Roadrunner Records, que os contratou e lançou Schizophrenia internacionalmente antes de ver a banda se apresentar pessoalmente.


Iggor



Beneath the Remains


O álbum melhorou a produção e a composição em comparação com os álbuns anteriores da banda. Com o tempo seria aclamado como um clássico do gênero thrash metal. De acordo com o vocalista Max Cavalera, o Sepultura "realmente encontrou [seu] estilo" neste álbum.


Max Cavalera viajou para Nova York, em fevereiro de 1988, e passou uma semana inteira negociando com a gravadora Roadrunner. Apesar de ser oferecido um contrato de sete discos para o Sepultura, a gravadora não tinha certeza do potencial de venda da banda.


O orçamento do álbum foi pequeno para os padrões da gravadora (8 mil dólares), mas, no final, o custo foi quase o dobro do orçamento original.


Scott Burns, o qual já havia feito engenharia de discos de bandas de death metal como Obituary, Death e Morbid Angel, foi o produtor escolhido. Burns concordou em trabalhar por uma taxa baixa (2 mil dólares) porque estava curioso sobre o Brasil.


O Sepultura passou a última quinzena de dezembro de 1988 gravando o disco no Nas Nuvens Studio, no Rio de Janeiro, das 20h às 5h. O estúdio foi escolhido especificamente por ser aquele onde alguns anos antes a banda brasileira de rock Titãs havia gravado seu clássico álbum Cabeça Dinossauro, que impressionou o Sepultura.


Burns trouxe para o Brasil alguns equipamentos de bateria e amplificadores Mesa Boogie (um item raro para os padrões de produção da época) que ajudaram a melhorar a qualidade do som.


Este foi seu primeiro álbum a apresentar uma capa de Michael Whelan. Houve um pouco de controvérsia em torno da arte da capa usada para este álbum.


O Sepultura havia, inicialmente, planejado usar outra arte de Michael Whelan, Bloodcurdling Tales of Horror and the Macabre. Igor Cavalera chegou mesmo a tatuar parte do quadro no braço. No entanto, a Roadrunner Records convenceu o Sepultura a usar Nightmare in Red, pois achavam que era mais adequada para Beneath the Remains.


Monte Conner, da Roadrunner, mais tarde enviou a arte original para a banda Obituary, que a usou em seu álbum, Cause of Death, que foi lançado um ano depois de Beneath the Remains. Durante anos após o incidente, Igor Cavalera ficou chateado com Monte Conner por esta situação.


Max, Igor, Andreas e Paulo



Vamos às faixas:


BENEATH THE REMAINS


O início acústico engana, mas logo a fúria assassina do Sepultura surge.


A letra traz um mundo devastado:


Cities in ruins

Bodies packed on minefields

Neurotic game of life and death

Now I can feel the end


INNER SELF


Um clássico com fúria Thrash, “Inner Self” é sensacional.


A letra é sobre autodeterminação:


Nobody will change my way

Life betrays but i keep on going

There's no light but there's hope

Crushing oppression I win


STRONGER THAN HATE


"Stronger Than Hate” traz o Thrash em estado de urgência!


As letras demonstram um desespero:


I can't decide on which way to turn

My choices are few and far between

A lifetime of remorse

There's no place that I've ever been


MASS HYPNOSIS


Mass Hypnosis” também soa brutal e intensa, contando com um refrão incrível.


As letras demonstram controle de massas:


Soldiers going nowhere

Believers kneeling over their sins

Inhuman instinct of cowardly leaders

Make the world go their own way

Tens of thousands hypnotized

Trying to find a reason why

Look inside your empty eyes

Obey 'till the end


SARCASTIC EXISTENCE


Sarcastic Existence” traz um ótimo trabalho das guitarras de Andreas, com a sonoridade abraçando o Death Metal.


A letra reflete uma vida miserável:


It could be seen through the window

The eye of disgust and scorn

When you hear the laugh of a madman

That's about to die

To suffer alone in disgrace

His hate is his own

Always hating being alive

Sarcastic existence


SLAVES OF PAIN


A trilha Thrash de “Slaves of Pain” é insana:


A letra fala sobre o sentimento de culpa:


To die to run away

To forget what i've been

To erase my past

To kill my guilt


LOBOTOMY


Lobotomy” traz a bateria bem violenta de Iggor.


A letra é brutal:


You receive your just reward

Now i'll live my life with indifference

I’ve tortured without remorse

I've slaughtered without fear


HUNGRY


Hungry” traz uma introdução baseada em um riff muito bom.


A letra traz uma violência genuína:


Hungry for pleasure, you act like a robot

The tears in your eyes as red as blood

Your pleasure is pain, your pleasure is torture

Hunger is your pleasure, hungry for the future


PRIMITIVE FUTURE


Primitive Future” encerra o disco com a clássica sonoridade do Sepultura no início de carreira: brutal!


A letra fala sobre vazio:


My head is heavy but empty

Everything around me is void, without movement

Without perspectives

The night invades the sky

That darkens the dry ground

Making my shadow join the big stain that's forming

My steps become slow and agonize


Considerações Finais


Beneath the Remains foi um sucesso imediato e ficou conhecido nos círculos do thrash metal como um clássico do mesmo tamanho de Reign in Blood, do Slayer. O disco foi aclamado pela revista Terrorizer como um dos 20 melhores álbuns de thrash metal de todos os tempos, bem como ganhando um lugar em seus 40 melhores álbuns de death metal de todos os tempos.


Eduardo Rivadavia, do site AllMusic, deu ao álbum 4,5 estrelas de 5 e disse: "A completa ausência de [músicas de] preenchimento aqui faz deste um dos álbuns de death/thrash metal mais essenciais de todos os tempos".


Uma longa turnê européia e americana aumentou a reputação da banda, apesar do fato de que eles ainda eram falantes de inglês muito limitados. As primeiras datas ao vivo do Sepultura fora do Brasil foram como banda de abertura para o Sodom em sua turnê Agent Orange na Europa; depois disso foi o primeiro show do Sepultura nos EUA, que foi realizado em 31 de outubro de 1989 no Ritz em Nova York, abrindo para a banda de heavy metal dinamarquesa King Diamond.


A banda filmou seu primeiro vídeo para a música "Inner Self", que recebeu considerável airplay no Headbangers Ball, da MTV dos Estados Unidos, dando ao Sepultura sua primeira exposição na América do Norte. A turnê de divulgação de Beneath the Remains continuou durante grande parte de 1990, incluindo três shows no Brasil com o Napalm Death, datas européias com Mordred e uma turnê nos Estados Unidos com as bandas Obituary e Sadus.


Em janeiro de 1991, o Sepultura tocou para mais de 100 mil pessoas no festival Rock in Rio II. A banda se mudou do Brasil para Phoenix, Arizona, nos EUA, em 1990, obtendo nova gestão e gravou o álbum Arise no Morrisound Studios em Tampa, na Flórida.





Formação:

Max Cavalera – Vocal, Guitarra-base

Igor Cavalera – Bateria, Percussão

Paulo Jr. – Baixo (creditado, mas não tocou)

Andreas Kisser – Guitarra-solo, Baixo

Músicos Convidados:

Kelly Shaefer (Atheist) – background vocals em "Stronger Than Hate"

John Tardy (Obituary) – background vocals em "Stronger Than Hate"

Scott Latour (Incubus) – background vocals em "Stronger Than Hate"

Francis Howard (Incubus) – background vocals em "Stronger Than Hate"

Henrique Portugal – Sintetizadores


Faixas:

1. Beneath the Remains (Max/Andreas) - 5:11

2. Inner Self (Max/Andreas) -5:07

3. Stronger Than Hate (K. Shaefer/Max/Andreas) - 5:50

4. Mass Hypnosis (Max/Andreas) - 4:22

5. Sarcastic Existence (Max/Andreas) - 4:43

6. Slaves of Pain (Max/Andreas) - 4:00

7. Lobotomy (Max/Andreas) - 4:55

8. Hungry (Max/Andreas) - 4:28

9. Primitive Future (Max/Andreas) – 3:08


Letras:

Para o conteúdo completo das letras, recomenda-se o acesso a: https://www.letras.mus.br/sepultura/


Opinião do Blog:

O Sepultura é bem provavelmente minha banda brasileira preferida desde sempre.


Beneath the Remains traz o grupo caminhando mais em direção ao Thrash Metal e fazendo sua sonoridade brutal com mais dinâmicas e possibilidades. Assim, o disco conta com a ferocidade habitual do grupo, mas com melodias mais interessantes.


Faixas como “Hungry”, “Stronger Than Hate” e “Mass Hypnosis” fazem coro às afirmações acima e são peças importantes do catálogo da banda. Ainda há o clássico “Inner Self”, uma das melhores músicas da banda em geral.


Enfim, não há muito a dizer sobre uma das minhas bandas preferidas e um de seus grandes trabalhos sem soar muito condescendente. Portanto, só cabe dizer: ouça Beneath the Remains.


Publicado, em partes, originalmente no site Consultoria do Rock.

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