15 de março de 2022

CROSBY, STILLS & NASH - CROSBY, STILLS & NASH (1969)

 


Crosby, Stills & Nash é o álbum de estreia do supergrupo homônimo, obviamente, o Crosby, Stills & Nash. Seu lançamento oficial aconteceu em 29 de maio de 1969, através do selo Atlantic Records. As gravações se deram entre fevereiro e março daquele mesmo ano, no Wally Heider's Studio III, em Los Angeles, nos Estados Unidos. A produção ficou a cargo do próprio supergrupo.


Eis o momento do Rock: Álbuns Clássicos fazer a estreia do excelente Crosby, Stills & Nash (vamos usar a sigla CSN) em nossas páginas. Como os leitores já estão acostumados, uma breve introdução histórica antecederá o faixa a faixa.





Origens


Antes da formação do CSN, cada um dos membros da banda pertencia a outro grupo de destaque.


David Crosby tocava guitarra, cantava e compunha canções com o The Byrds; Stephen Stills foi guitarrista, tecladista, vocalista e compositor da banda Buffalo Springfield (que também contou com Neil Young); e Graham Nash, que é inglês, foi guitarrista, cantor e compositor do The Hollies.


Crosby foi demitido do The Byrds em outubro de 1967, sendo alegadas divergências sobre suas composições. No Monterey Pop Festival, Crosby substituiu Neil Young (que deixou a banda antes do show) para se juntar ao Buffalo Springfield.


No início de 1968, o Buffalo Springfield havia se desintegrado e, depois de auxiliar muito no último álbum da banda, Last Time Around, Stills estava sem banda.


Stills e Crosby começaram a se encontrar informalmente e a tocarem juntos. O resultado de um encontro na Flórida, na escuna de Crosby, foi a música "Wooden Ships", composta em colaboração com outro convidado, Paul Kantner do Jefferson Airplane.


Graham Nash foi apresentado a Crosby quando o The Byrds fez uma turnê pelo Reino Unido em 1966, e, quando o The Hollies se aventurou na Califórnia em 1968, Nash voltou a encontrá-lo.


David Crosby



Nash conheceu Stills em uma festa na casa de Peter Tork, em Laurel Canyon. Ele foi cativado por Stills tocando em um piano, com um estilo "brasileiro, latino, boogie woogie e rock and roll". Em julho de 1968, durante um jantar em uma festa (em outra casa de Laurel Canyon), Nash convidou Stills e Crosby para executarem uma composição de Stills, chamada "You Don't Have To Cry".


Eles tentaram duas vezes, após as quais Nash aprendeu a letra e improvisou uma nova parte de harmonia em uma terceira versão. Assim, os três perceberam que tinham uma química vocal muito boa. Enquanto cantavam pela terceira vez, caíram na gargalhada.


Na realidade, The Byrds, The Buffalo Springfield e The Hollies foram bandas de harmonia, com Nash dizendo mais tarde em uma entrevista de 2014: "Nós sabíamos o que estávamos fazendo”, referindo-se ao sucesso de cada uma das bandas individuais. Continuou: "Qualquer que seja o som de Crosby, Stills e Nash, ele nasceu em 30 segundos. Esse é o tempo que levávamos para harmonizar”.


Criativamente frustrado com o The Hollies, Nash decidiu deixar a banda em dezembro de 1968 e voou para Los Angeles dois dias depois.


O trio viajou para Londres no início de 1969 para ensaiar para o que acabou sendo uma audição malsucedida com a Apple Records, dos Beatles.


Desde o início, dadas suas experiências anteriores, o trio decidiu não ficar preso a uma estrutura de grupo. Eles usaram seus sobrenomes, como identificação, para garantir a independência e, também, que a banda não continuaria sem um deles, ao contrário do The Byrds e do The Hollies.


Stephen Stills



Eles contrataram uma equipe de gerenciamento, com Elliot Roberts e David Geffen, que conseguiram um contrato do grupo com a Atlantic Records e ajudou o grupo a ganhar influência na indústria musical. Roberts mantinha a banda focada e lidava com egos, enquanto Geffen cuidava dos negócios, já que, nas palavras de Crosby, eles precisavam de um "tubarão" e Geffen era isso.


Stills já era assinado com a Atlantic Records através de seu contrato com o Buffalo Springfield. Crosby havia sido liberado de seu acordo com o The Byrds (Columbia), pois foi considerado sem importância e alguém muito difícil de se trabalhar. Nash, no entanto, ainda tinha contrato com a Epic Records através do The Hollies. Ahmet Ertegun, da Atlantic, fez um acordo com Clive Davis para essencialmente trocar Nash com a Atlantic “oferecendo” Richie Furay (que também era contratado pela Atlantic em virtude de sua participação no Buffalo Springfield) e Poco, sua nova banda.


O álbum de estreia


Stills dominou a gravação do álbum. Crosby e Nash tocaram guitarra em suas próprias músicas, respectivamente, enquanto o baterista Dallas Taylor tocou na maioria das faixas, exceto o baterista Jim Gordon que tocou em uma.


Stills tocou todas as partes de baixo, órgão e guitarra solo, bem como violão em suas próprias músicas.


"Os outros caras não ficaram ofendidos quando eu disse que aquele era meu bebê, e eu meio que tinha as faixas na minha cabeça", disse Stills.


Mesmo com esse domínio, Stills não aparece nas faixas "Guinnevere" e "Lady of the Island", ambas com apenas Crosby e Nash.


David Crosby se irritou com "Long Time Gone", pois achava que deveria pelo menos tocar guitarra rítmica em sua própria música. Stills o convenceu a ir para casa por um tempo e, quando voltou, Crosby foi conquistado pela faixa que Stills e Taylor haviam gravado. Em uma entrevista mais recente, Crosby contradisse sua declaração anterior, afirmando que ele havia tocado guitarra na faixa.


Na capa, os membros são, da esquerda para a direita, Nash, Stills e Crosby, na ordem inversa do título do álbum. A foto foi tirada por seu amigo e fotógrafo Henry Diltz antes que eles criassem um nome para o grupo.


Eles encontraram uma casa abandonada, com um sofá velho e surrado do lado de fora, localizada na 815 Palm Avenue, West Hollywood, em frente ao lava-rápido de Santa Palm e eles acharam que seria perfeito para sua imagem. Poucos dias depois, eles decidiram pelo nome "Crosby, Stills e Nash".


Para evitar confusão, eles voltaram para a casa um ou dois dias depois para refazer a foto de capa na ordem correta, mas quando chegaram lá descobriram que a casa havia sido reduzida a uma pilha de madeira.


Graham Nash



Dallas Taylor pode ser visto olhando pela janela da porta na parte de trás da capa. Na edição ampliada, no entanto, ele está ausente.


O LP original em vinil foi lançado em uma capa gatefold que mostrava os membros da banda com grandes parkas de pele, e com um pôr do sol ao fundo na capa (filmado em Big Bear, Califórnia), bem como a icônica arte da capa. Uma longa página dobrada, no interior, exibia os créditos do álbum, letras, lista de faixas e um desenho a lápis quase psicodélico.


Vamos às faixas:


SUITE: JUDY BLUE EYES


"Suite: Judy Blue Eyes" já se inicia com a pegada mais suave, com bases no folk, e lindas harmonias vocais, sendo liderada por Stills.


As letras refletem sobre um fim de relacionamento:


Tearing yourself away from me now
You are free and I am crying
This does not mean I don't love you
I do, that's forever, and always
I am yours, you are mine, you are what you are
And you make it hard





A canção foi lançada como single para promoção do álbum, atingindo a 21a posição da principal parada norte-americana.


MARRAKESH EXPRESS


Marrakesh Express” é bem divertida, com a guitarra bem presente, tendo os vocais de Nash mais proeminentes.


A letra narra uma viagem que Graham Nash fez no Marrocos:


Looking at the world through the sunset in your eyes,
Traveling the train through clear Moroccan skies
Ducks, and pigs, and chickens call,
animal carpet wall to wall
American ladies five-foot tall in blue.
Sweeping cobwebs from the edges of my mind,
Had to get away to see what we could find





A música também foi um single para a promoção do disco, alcançando a 28a posição na principal parada norte-americana desta natureza, conquistando a 17a colocação em sua correspondente britânica.


GUINNEVERE


Guinnevere” é mais intimista, com uma pegada mais contida, entretanto, também belíssima.


A letra se refere a uma dama de nome Guinnevere:


Guinnevere
Had golden hair
Like yours, mi'lady like yours
Streaming out when we'd ride
Through the warm wind down by the bay


YOU DON’T HAVE TO CRY


A linda “You Don't Have to Cry” coloca um pezinho no Country e os vocais são extremamente tocantes.


A letra também fala de relacionamento:


In the Morning when you rise
Do you think of me and how you left me crying
Are you thinking of telephones and managers


PRE-ROAD DOWNS


Nash lidera os vocais na mais ‘roqueira’ “Pre-Road Downs”.


A letra possui um sentido romântico:


If you're thinkin'

What I'm thinkin'

Then I'm gonna make my love to you


WOODEN SHIPS


Wooden Ships” bebe mais fortemente no Blues Rock é um dos melhores momentos do disco.


A letra se refere a consequências de uma guerra nuclear:


Wooden ships on the water very free and easy
Easy, you know the way it's supposed to be
Silver people on the shoreline let us be
Talkin' 'bout very free and easy


LADY OF THE ISLAND


Lady of the Island” é bem suave e com um andamento mais arrastado.


A letra se refere a uma mulher:


Letting myself wander through the world inside your eyes
You know I'd like to stay here until every tear runs dry
Do, do, do, do, do, do, do ...
My lady of the island


Graham Nash compôs esta canção enquanto ainda fazia parte do grupo The Hollies, mas a banda rejeitou a composição.


HELPLESSLY HOPING


As harmonias vocais de “Helplessly Hoping” são simplesmente de arrepiar.


De certa forma, a letra reflete uma espécie de ansiedade:


Stand by the stairway

You'll see something

Certain to tell you confusion has its cost

Love isn't lying

It's loose in a lady who lingers

Saying she is lost

And choking on hello


LONG TIME GONE


Outra faixa incrível, e bem mais roqueira, é a intensa “Long Time Gone”.


A letra fala sobre impermanência:


And it appears to be a long

Appears to be a long, mmm

Appears to be a long time

Such a long, long, long, long time before the dawn


49 BYE-BYES


O álbum é encerrado com a interessante “49 Bye-Byes”.


A letra é um divertido jogo de palavras:


Bye, bye, baby,

Write if you think of it, maybe.

Hey, but you can run, baby.

If the feeling's wrong, before too long, it's crazy.

And you're trapped babe, and you know that's not where it's at baby.

You're just seein' things through a cat's eye, baby;

That's not my old lady.

Come on and tell me, baby,

you better tell me, baby,

Who do you,

Who do you love?


Considerações Finais


Com seus dois singles, "Marrakesh Express" e "Suite: Judy Blue Eyes", ambos atingindo o Top 40 da principal parada norte-americana desta natureza, o álbum de estreia do Crosby, Stills & Nash foi um tremendo sucesso.


O disco ficou com o 6º lugar na principal parada de álbuns norte-americana, ainda conquistando a 25a posição em sua correspondente inglesa.


O álbum foi aclamado pela crítica especializada, majoritariamente. Em uma crítica da época, Barry Franklin, da Rolling Stone, chamou Crosby, Stills & Nash de "um disco eminentemente tocável" e "trabalho especialmente satisfatório", achando as composições e harmonias vocais particularmente excepcionais.





Robert Christgau foi menos entusiasmado no The New York Times, escrevendo que "[Crosby, Stills & Nash] é tão perfeito quanto se esperava. Mas também demonstra os perigos da perfeição: a selvageria que deveria liberar o grande rock é tão bem controlada que quando aparece (como na excelente 'Pre-Road Downs') parece ter sido inserida apenas para provar que a música é rock: a única exceção é o vocal lamentoso de Crosby em 'Long Time Gone'".


Em retrospectiva, Jason Ankeny, do AllMusic, dá nota máxima ao trabalho, revelando: “Um documento definitivo de sua época”.


Em 2003, a Rolling Stone classificou Crosby, Stills & Nash na 259a posição em sua lista dos 500 melhores álbuns de todos os tempos e foi reclassificado no 262º lugar em 2012.O disco também foi eleito na 83a colocação no All Time Top 1000 Albums 3rd Edition, de Colin Larkin, em 2000.


Crosby, Stills & Nash venceu o Grammy, em 1970, na categoria ‘melhor artista novo’.


Com exceção do baterista Dallas Taylor e um punhado de partes rítmicas e de guitarra acústica de Crosby e Nash, Stills lidou com a maior parte da instrumentação (incluindo todas as partes de guitarra, baixo e teclado) no álbum, o que deixou a banda precisando de pessoal adicional para poder fazer uma turnê.


Mantendo Taylor, a banda tentou inicialmente contratar um tecladista. Stills inicialmente se aproximou do virtuoso multi-instrumentista Steve Winwood, que já estava ocupado com o recém-formado grupo Blind Faith.


Ertegun sugeriu o ex-membro da Buffalo Springfield, Neil Young, também gerenciado por Elliot Roberts, como uma escolha bastante óbvia; embora, principalmente, um guitarrista, Young era um tecladista proficiente e podia alternar no instrumento com Stills e Nash em um contexto ao vivo.


Stills e Nash inicialmente mantiveram reservas; Stills por causa de sua história com Young no Buffalo Springfield, e Nash por causa de sua falta de familiaridade com Young. Mas depois de várias reuniões, o trio se expandiu para um quarteto com Young como parceiro. Os termos do contrato permitiram a Young total liberdade para manter uma carreira paralela com sua nova banda, a Crazy Horse.


Eles inicialmente completaram a seção rítmica com o ex-baixista do Buffalo Springfield, Bruce Palmer. No entanto, Palmer foi demitido devido a seus persistentes problemas pessoais após os ensaios no Cafe au Go Go no Greenwich Village de Nova York; de acordo com Crosby, "Bruce Palmer estava em outro instrumento e sua cabeça não estava onde deveria estar".



O baixista adolescente da Motown, Greg Reeves, entrou no lugar de Palmer por recomendação de Rick James, um amigo e ex-colega de banda de Neil Young.


Seu primeiro grande show foi em 16 de agosto de 1969, no Auditorium Theatre, em Chicago, com Joni Mitchell como seu ato de abertura. Eles mencionaram que iriam para um lugar chamado Woodstock no dia seguinte, mas que não tinham ideia de onde era. Seu show de uma hora no Festival de Woodstock, no início da manhã de 18 de agosto de 1969, foi um batismo de fogo.


Sua aparição no festival e no filme subsequente (Woodstock), juntamente a gravação da música de Joni Mitchell em memória de Woodstock, aumentou a visibilidade do quarteto. CSNY apareceu em outros festivais de destaque naquele ano.


Crosby Stills & Nash supera a casa de 4 milhões de cópias vendidas apenas nos Estados Unidos.





Formação:

David Crosby – Vocal; Guitarras em "Guinnevere"; guitarra rítmica em "Wooden Ships" e "Long Time Gone"
Stephen Stills - Vocal, Guitarras, Baixo, Teclados, percussão todas as faixas, exceto "Guinnevere" e "Lady of the Island"
Graham Nash – Vocais; Guitarra rítmica em "Marrakesh Express" e "Pre-Road Downs"; Violão em "Lady of the Island"
Músicos Adicionais:

Dallas Taylor – Bateria em "Suite: Judy Blue Eyes", "Pre-Road Downs", "Wooden Ships", "Long Time Gone" e "49 Bye-Byes"
Jim Gordon – Bateria em "Marrakesh Express"
Cass Elliot - Backing Vocals em "Pre-Road Downs"


Faixas:

01. Suite: Judy Blue Eyes (Stills) - 7:25

02. Marrakesh Express (Nash) - 2:39

03. Guinnevere (Crosby) - 4:40

04. You Don't Have to Cry (Stills) - 2:45

05. Pre-Road Downs (Nash) - 2:56

06. Wooden Ships (Crosby/Kantner/Stills) - 5:29

07. Lady of the Island (Nash) - 2:39

08. Helplessly Hoping (Stills) - 2:41

09. Long Time Gone (Crosby) - 4:17

10. 49 Bye-Byes (Stills) - 5:16


Letras:

Para o conteúdo completo das letras, recomenda-se o acesso a: https://www.letras.mus.br/crosby-stills-and-nash/


Opinião do Blog:

A junção de talentos excepcionais como David Crosby, Stephen Stills e Graham Nash não poderia ter dado mais certo.


O álbum Crosby, Stills & Nash é um atestado de como a música pode ser poderosa, tocante e suave – ao mesmo tempo. Viajando por uma atmosfera que bebe fartamente no Folk e no Country e, por algumas vezes, no Blues, o disco aposta na combinação perfeita das vozes de seus protagonistas, produzindo canções apaixonantes.


Se faixas como “Guinnevere” e “Helplessly Hoping” investem em um viés intimista e suave, é na harmonização de suas vozes que o grupo se encontra e oferece um novo patamar para suas composições.


O site elege como favoritas “Wooden Ships” e “Long Time Gone” que flertam deliberadamente com uma sonoridade mais Blues Rock.


Enfim, Crosby, Stills & Nash é um álbum antológico e não há muito mais a ser dito sobre ele. Um grupo que entrou para a história (a fase com Neil Young também é incrível) e que deixou um registro influente, importante e, sobretudo, belíssimo.

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