18 de abril de 2023

PREMIATA FORNERIA MARCONI - STORIA DI UN MINUTO (1972)

 


Storia di un minuto é o álbum de estreia banda italiana Premiata Forneria Marconi. Seu lançamento oficial aconteceu em janeiro de 1972, através do selo Numero Uno. As gravações ocorreram no ano de 1971, no estúdio Fonorama, em Milão, na Itália. A produção ficou a cargo de Claudio Fabi.


O Blog traz a estreia da histórica banda italiana de rock progressivo, a Premiata Forneria Marconi, com seu impressionante Storia di un minuto. Vai-se contar parte da formação do grupo para depois se ater ao álbum propriamente dito.





Formação


A Premiata Forneria Marconi é, para todos os efeitos, a evolução musical e artística de um grupo chamado Quelli, um quinteto que, na segunda metade dos anos sessenta, tinha-se destacado no meio discográfico italiano pela qualidade, preparação e técnica instrumental dos seus componentes.


O baterista Franz Di Cioccio, o guitarrista Franco Mussida, o tecladista Flavio Premoli e o baixista Giorgio "Fico" Piazza, o vocalista Teo Teocoli (que os deixou em 1967), componentes principais do complexo, estiveram entre os mais requisitados músicos italianos: gravaram para Mina, Lucio Battisti, Fabrizio De André e muitos outros.


Foram precisamente as suas competências técnicas que permitiram aos membros da banda tornarem-se algo mais do que músicos de sessão de luxo. No final dos anos 1960, o rock estava evoluindo para novas formas, inspiradas em quase todos os outros gêneros musicais.


O rock progressivo, o qual dava seus primeiros passos significativos principalmente na Inglaterra, exigia grande habilidade instrumental e técnica. Bandas formadas por excelentes instrumentistas começaram a se estabelecer, muitas dos quais se tornariam as maiores virtuoses da história do rock.


O novo gênero, rico em influências clássicas, folk, toques de jazz, etc., provou ser ideal para os membros do quinteto Quelli. Foi a ideia, pedra angular do rock progressivo, comunicar-se principalmente com os instrumentos, precisamente porque a evolução da técnica instrumental do rock permitiu alargar o horizonte musical da construção da canção ao andamento, da suite ou mesmo da sinfonia e da obra.


Franco Mussida



Krel


A virada decisiva, em 1970, foi o abandono da forma cantada para passar a composições mais elaboradas: o quarteto Quelli muda de nome para Krel (nome de um planeta presente no conto O veredicto de Arthur J. Cochran) e grava três músicas: duas lançadas em 45 rpm (“Fin che le armi diventino ali”/”E il mondo cade sotto”, com letras de Vito Pallavicini para ambas as músicas e colaboração com Umberto Balsamo para a música de “E il mondo cade sotto”), e uma em uma compilação lançada por Dischi Ricordi e dedicada às canções do Festival de Sanremo daquele ano (“Pa' diglielo a ma'”, apresentada por Ron junto com Nada e arranjada pelos Krel em uma versão mais rock que a original).


Premiata Forneria Marconi


O encontro dos quatro músicos com o violinista e flautista Mauro Pagani (vindo dos Daltons), durante as gravações do álbum La Buona Novella de Fabrizio De André, revelou-se fundamental para a transição de Krel para Premiata Forneria Marconi.


Virtuosidade, cuidado com o arranjo e improvisação eram os elementos que o conjunto, que se estendeu a Pagani, foi aprendendo com nomes como King Crimson, Jethro Tull e os expoentes do novo rock (ou música pop como era então chamada na Itália com um significado diferente do atual).


Continuando a desempenhar o papel de músicos de sessão e a participar de projetos alheios (Di Cioccio entrou na Equipe 84 por algum tempo), o Krel agora se dedicava totalmente ao desenvolvimento de sua nova linguagem musical. Como não encontrara espaço na gravadora da época, decidiram seguir Lucio Battisti, Mogol e outros que, tendo abandonado a Ricordi, fundaram seu próprio selo independente, o Numero Uno.


Com a transição para o novo selo e o novo gênero, tornou-se necessário mudar o nome: entre as muitas propostas, a escolha se reduziu a Isotta Fraschini e Forneria Marconi: escolheram a segunda a partir do nome de uma padaria em Chiari (Brescia) frequentada por Pagani, ao qual acrescentaram Premiata.


Segundo as gravadoras, o nome era muito longo, mas o grupo respondeu à objeção argumentando que quanto mais difícil fosse lembrar um nome, mais difícil seria esquecê-lo.


Graças ao empresário Franco Mamone e a Francesco Sanavio, a formação iniciou uma atividade lucrativa como grupo de apoio nos shows italianos de vários artistas como Procol Harum, Yes e Deep Purple.


Foi por meio dessas apresentações que a PFM conseguiu se tornar conhecida à então grande população de entusiastas do rock. Em 1971 participaram da primeira edição do "Festival de vanguarda e novas tendências" em Viareggio com a música “La carrozza di Hans”, vencendo a edição ao lado de Mia Martini e Osanna.


Em 1971 foi lançado o primeiro trabalho da Premiata Forneria Marconi, o single “La carrozza di Hans”/”Impressioni di settembre”, seguido, no início de 1972, pelo álbum Storia di un Minuto. A peça “Impressioni di settembre” (de Mussida e Pagani sobre texto de Mogol) logo se tornou um de seus pontos fortes e um clássico da música italiana.


O grupo decidiu gravar o disco ao vivo em estúdio, para não perder o impacto e a energia transmitidas por suas já famosas apresentações ao vivo. Entre outras coisas, o Minimoog foi usado pela primeira vez na Itália com este álbum. Parece que naquela época nem mesmo a Premiata Forneria Marconi podia pagar, então eles pegaram emprestado o único exemplar de propriedade de um importador italiano.


Mauro Pagani



Storia di un minuto


Gravado ao vivo por Gaetano Ria nos estúdios Fonorama em Milão (propriedade de Carlo Alberto Rossi), foi relançado em CD em 2005. É um álbum conceitual que traça o dia de um homem comum.


A capa, desenhada por Caesar Monti, Wanda Spinello e Marco Damiani, pode ser aberta e dentro traz uma única folha com as letras das músicas.


La carrozza di Hans” e “Impressioni di settembre” estão em uma versão diferente do single de 1971.


As peças “Impressioni di settembre” e “E' festa” são cantadas por Franco Mussida, “La carrozza di Hans” é cantada na primeira parte por Mauro Pagani (assim como “Dove...Quando”), enquanto a segunda pelo próprio Mussida.


Vamos às faixas:


INTRODUZIONE


Como o nome indica, uma pequena introdução para o álbum.


IMPRESSIONI DI SETTEMBRE


Impressioni di settembre” apresenta vocais impressionantes de Mussida, combinando com uma sonoridade contagiante, refletida em melodias belíssimas.


A letra mostra um eu lírico em busca de si:


No, cosa sono adesso non lo so

Sono come, un uomo in cerca di se stesso

No, cosa sono adesso non lo so

Sono solo, solo il suono del mio passo


È FESTA


Esta faixa é mais roqueira, com mais influências de bandas como o Yes, sendo uma composição dominada pelos teclados.


Os versos remetem ao sentimento de temporalidade:


È festa!

Come sempre é la festa

D'un leggero uccelio che va

Come sempre è la festa

Di chi è


DOVE… QUANDO… (PARTE 1)


A belíssima melodia se casa perfeitamente com a interpretação vocal de Mussida. Impressionante!


A letra mostra o eu lírico em dúvidas:


Che farei amore mio,

Che sorriso avrai?

Dai tuoi si dai tuoi no

Cosa imparerò?


DOVE… QUANDO… (PARTE 2)


A continuação da faixa anterior, mas desta feita com direito a bem mais improvisações, com toques de Jazz ótimo trabalho instrumental.


A letra menciona pequenas felicidades:


Quanto tempo dentro

Tempo già passato,

Accucciato nel cuore,

Grosso libro di fiabe

Lette, vissute e inventate

E giocate…


Flavio Premoli



LA CARROZZA DI HANS


Predominantemente suave, a canção ganha bastante intensidade mais para o seu final, em uma construção muito interessante.


A letra revela o desejo pela liberdade:


Cieli infiniti, vento in faccia

Voglia di correre e non fermarsi mai

Scrivere suonare e bailare

E non fermarsi mai

Bruciare il proprio teatro

Vestira il proprio teatro

Ascoltara, lavorare a dormire

E nor fermarsi mai;

Guardarsi in giro

Sentirsi il mondo negli occhi

Sentirsi piccino e adorare

E non fermarsi mai


GRAZIE DAVVERO


Premoli retorna aos vocais na derradeira faixa do trabalho, que explora muitos caminhos alternativos e distintos.


A letra expressa um sentimento de adeus:


Piove già piove piano,

Piove su di me:

Viene giorno, viene piano,

Quieto qui da me:

Pioverà


Considerações Finais


Storia di un minuto fez um grande sucesso em seu lançamento, atingindo o topo da principal parada italiana de álbuns por uma semana. O primeiro álbum também foi muito elogiado pela crítica.


Em uma crítica em retrospectiva, Robert Taylor, do site AllMusic, dá ao trabalho uma nota 4,5 (em 5), apontando:


(…) Gravado ao vivo no estúdio, o PFM provou que eles eram tão criativos e talentosos quanto as bandas britânicas da época. Seu rock progressivo sinfônico combina elementos de folk, clássico e jazz de uma maneira genuína. Isso é alcançado por seu nível transcendente e flexível de musicalidade. "Impressioni di Settembre" e "Dove...Quando" em duas partes demonstram a capacidade da banda de criar harmonias ricas com melodias pop. A banda também consegue tocar bem pesado, como pode ser ouvido na rockeira "È Festa", que se tornou uma de suas músicas mais pedidas. Storia di un Minuto se destaca como uma das melhores estreias do rock progressivo da história (…)”


No final de 1972 foi lançado o segundo disco, Per un amico. A música era mais complexa, mais elaborada, mais próxima do rock progressivo que se tocava no Reino Unido naquela época.


Em 20 de dezembro daquele ano, durante um show em Roma para a apresentação do novo álbum, o Premiata Forneria Marconi foi ouvido pelo baixista e cantor Greg Lake, do Emerson, Lake & Palmer que, entusiasmado, levou o grupo para Londres, até a sede da Manticore na presença do letrista e inspirador do King Crimson - e então produtor da Roxy Music - Peter Sinfield.


Mas isto é outra história.





Formação:

Franco Mussida – Guitarras elétrica e acústica, Guitarra de 12 cordas, Mandocello, Vocal (2,4,6), Backing Vocal

Flavio Premoli – Órgão, Piano, Mellotron, Cravo, Minimoog, Vocal (3 e 7), Backing Vocal

Mauro Pagani – Flauta, Flautim, Violino, Backing Vocal

Giorgio Piazza – Baixo, Backing Vocal

Franz Di Cioccio – Bateria, Moog, Backing Vocal


Faixas:

1. Introduzione (Mussida) - 1:09

2. Impressioni di settembre (Mussida/Mogol/Pagani) - 5:44

3. È festa (Mussida/Pagani) - 4:52

4. Dove... quando... (parte 1) (Mussida/Pagani) - 4:10

5. Dove... quando... (parte 2) (Mussida/Pagani) - 6:01

6. La carrozza di Hans (Mussida/Pagani) - 6:45

7. Grazie davvero (Mussida/Pagani) – 5:51


Letras:

Para o conteúdo completo das letras, recomenda-se o acesso a: https://www.letras.mus.br/premiata-forneria-marconi/


Opinião do Blog:

Uma das melhores formações do Rock Progressivo: assim pode ser definida o Premiata Froneria Marconi.


Já em sua estreia, o ouvinte é agraciado com uma música incrível, não linear, onde o Rock serve de base para construções que fundem música erudita, Jazz e passagens folk/bucólicas.


Storia di un minuto apresenta uma banda que conseguia criar melodias belíssimas, de inegável toque “Pop”, mas que eram permeadas pela complexidade de músicos muito técnicos – e, é nesta aliança entre melodias suaves e passagens intrincadas que está o valor da obra.


Sem faixas de enchimento, destaca-se como nossa preferida as duas partes magistrais de “Dove… quando…”.


Enfim, a Premiata Forneria Marconi é uma banda formidável dentro do Rock Progressivo e, certamente, o fato de fazer músicas na língua italiana a impediu de uma repercussão ainda maior em mercados de linguagem anglo-saxônica. Storia di un minuto é brilhante!

0 Comentários:

Postar um comentário