2 de maio de 2020

THE SMASHING PUMPKINS - GISH (1991)



Gish é o álbum de estreia da banda norte-americana The Smashing Pumpkins. Seu lançamento oficial aconteceu em 28 de maio de 1991, através do selo Caroline Records. As gravações ocorreram entre dezembro de 1990 e março do ano seguinte, no Smart Studios, em Madison, nos Estados Unidos. A produção ficou a cargo de Butch Vig e de Billy Corgan.

Neste retorno do RAC, o blog traz a estreia da banda norte-americana The Smashing Pumpkins, com seu álbum Gish. Confira!



Primórdios

Após o rompimento de sua banda de formato gótico, o Marked, o cantor e guitarrista Billy Corgan deixou São Petersburgo, na Flórida, para retornar à sua cidade natal de Chicago, onde conseguiu um emprego em uma loja de discos e construiu a idéia de uma nova banda que se chamaria Smashing Pumpkins.

Enquanto trabalhava lá, ele conheceu o guitarrista James Iha. Adornando-se com paisley e outros ornamentos psicodélicos, os dois começaram a escrever músicas juntos (com a ajuda de uma bateria eletrônica) que foram fortemente influenciados pelo Cure e pelo New Order.

A dupla se apresentou ao vivo pela primeira vez em 9 de julho de 1988 no bar polonês chamado Chicago 21. Esta performance incluiu apenas Corgan no baixo e Iha na guitarra, com uma bateria eletrônica.

Evolução

Pouco tempo depois, Corgan conheceu D'arcy Wretzky após um show da Dan Reed Network, onde eles discutiram os méritos da banda. Depois de descobrir que Wretzky tocava baixo, Corgan a recrutou para a formação, e o trio fez um show no Avalon Nightclub.

Após esse show, Joe Shanahan, proprietário do Cabaret Metro, concordou em reservar a banda com a condição de substituir a bateria por um baterista ao vivo.

O baterista de jazz Jimmy Chamberlin foi recomendado por um amigo de Corgan. Chamberlin sabia pouco sobre música alternativa e imediatamente mudou o som da nascente banda.

Em 5 de outubro de 1988, a banda completa subiu ao palco pela primeira vez no Metro Cabaret.

Em 1989, o Smashing Pumpkins fez sua primeira aparição em um álbum com a coletânea Light Into Dark, que apresentava várias bandas alternativas de Chicago. O grupo lançou seu primeiro single, "I Am One", em 1990, pela gravadora local de Chicago, Limited Potential.

Billy Corgan

Gish

O single foi muito bem e eles lançaram um acompanhamento, "Tristessa", através do selo Sub Pop, após o qual assinaram contrato com a gravadora Caroline Records. A banda gravou seu álbum de estréia em 1991, Gish, com o produtor Butch Vig em seus Smart Studios, em Madison, Wisconsin, por 20 mil dólares.

Gish foi gravado de dezembro de 1990 a março de 1991.

Vig e Billy Corgan trabalharam juntos como coprodutores. O período de gravação mais longo e o orçamento maior foram inéditos para Vig, que mais tarde se lembrou:

“(Corgan) queria fazer tudo parecer incrível e ver até onde ele poderia ir; realmente se gasta tempo com a produção e as performances. Para mim, foi uma dádiva de Deus, porque eu estava acostumado a gravar discos para todas as gravadoras independentes e tínhamos orçamentos para três ou quatro dias. Tendo esse luxo de passar horas no som de uma guitarra, afinar a bateria ou trabalhar harmonias e coisas texturais... eu estava pensando que havia encontrado um ‘camarada de armas’ que queria me puxar e que realmente queria eu puxá-lo”.

A inclusão de um estilo de produção maciço que lembra bandas como ELO e Queen era incomum para uma banda independente da época. Enquanto muitos álbuns daquela época usavam amostragem e processamento de bateria, Gish usava gravações de bateria não processadas e um som exato e único da guitarra.

Billy Corgan também tocou quase todas as partes de guitarra e de baixo do disco, o que foi confirmado por Vig em uma entrevista posterior.

As sessões do álbum, com duração de 30 dias úteis, foram agitadas para os padrões do Pumpkins, em grande parte por causa da inexperiência do grupo. As sessões de gravação pressionaram intensamente a banda, com a baixista D'arcy Wretzky comentando mais tarde que ela não sabia como a banda sobreviveu, e Corgan explicando que ele sofreu um colapso nervoso.

"I Am One", "Rhinoceros", "Daydream" e "Bury Me" foram gravadas anteriormente, como demos pela banda, em 1989. Todas as quatro músicas foram regravadas para Gish.

James Iha

O álbum recebeu o nome do ícone do cinema mudo, Lillian Gish. Posteriormente, Corgan brincou que o álbum seria originalmente chamado de Fish, mas foi alterado para Gish, para evitar comparações com a banda Phish.

I AM ONE

Um ótimo riff e o trabalho grooveado da seção rítmica são os principais destaques da excelente “I Am One”. As guitarras também aparecem muito bem.

A letra menciona uma espécie de punição:

Time is right for a guiding light
Try to turn to reasons in your inner life
Your city to burn, your city to burn
Try to look for something, your city to burn
You'll burn

“I Am One” foi lançada pela primeira vez em 1990, antes mesmo da existência de Gish, com uma pequena tiragem, pelo selo Limited Potential, com um dinheiro de Billy Corgan deixado por sua avó.

A canção foi regravada em Gish e também novamente lançada como single. Ela conquistou a 73ª posição da principal parada britânica de singles.

SIVA

“Siva” mantém a abordagem focada no peso e na agressividade, indo direta ao ponto, sem muitos rodeios. Jimmy Chamberlain é o grande ponto alto da música, com sua atuação na bateria.

A letra possui uma perspectiva bastante deprimente:

All this pain smothers me
Like a bomb that you can't see
Tell me, tell me what you're after
I just want to get there faster

Segundo Corgan, “Siva” foi inspirada por conceitos tântricos ligados à feminilidade, mas, por conta da associação com o deus hindu Shiva, ele retirou a letra H do nome da música. Corgan também já mencionou que ‘shiva’ foi um candidato potencial à denominação da banda.

“Siva” foi lançada como single no Reino Unido e na Austrália.

RHINOCEROS

A triste e melancólica melodia de “Rhinoceros” cativa mesmo antes de desaguar em alta voltagem e muita energia, perfazendo uma das melhores canções do grupo. Ótimo trabalho da guitarra de Iha.

A letra é sobre revelação:

Open your eyes
To these mustard lies?
Open your eyes
To these mustard lies?
The way



“Rhinoceros” seria uma metáfora sobre a própria sonoridade do grupo, ou seja, o peso e a brutalidade em contraponto a uma certa vulnerabilidade.

“Rhinoceros” foi lançada como single e segue sendo uma das faixas favoritas dos fãs.

BURY ME

O baixo está muito presente em “Bury Me”, dando não apenas ritmo, mas um peso extra a esta boa música. Os vocais também são muito legais.

A letra tem um sentido sufocante:

Once you see her
One inside (hide, hide)
Some things you just can't hide
If you see her
Tell me why (why, why)
Why won't she come outside?

CRUSH

“Crush” coloca os pés no freio, com uma atmosfera mais suave e intimista, com os vocais de Corgan tomando o protagonismo. Uma bela canção.

A letra conta com um quê de romantismo:

And this feeling shivers down your spine
Love comes in colors I can't deny
All that matters is love, love, your love
You're sleeping in your bed
Just rest your weary head
Maybe you shouldn't care
Throw away those dreams and dare

SUFFER

“Suffer” também é mais contida, desenvolvendo-se lenta e atmosfericamente suave, mas ainda com uma melodia interessante. Outra música bem bonita.

A letra traz uma reflexão interessante:

All of your struggles beneath your disguise
Drink from the reasons that hold you alive
'Til we're safe from the wounds of desire and pain
You must rise from the mounds of desire and change

SNAIL

“Snail” volta a apostar nos pesos das guitarras e estas acabam por se destacarem em uma faixa mais cadenciada, mas que entusiasma.

A letra fala de evolução:

When you wake up you're all weak
Throwing your life away
Someday, sorry coming home
Sorry snail
Down in my heart

TRISTESSA

Embora o nome pudesse sugerir, “Tristessa” não é nada melancólica e já joga as guitarras afiadas bem na cara do ouvinte a partir de seu princípio. Mais uma ótima música.

A letra é bem melancólica:

Pledged your faith
My heart embraced
Struggle to renew



“Tristessa” foi outra faixa regravada para Gish e também lançada novamente como single para promoção do disco.

WINDOW PAINE

“Window Paine” soa excessivamente arrastada e acaba se tornando um ponto fora da curva dentro do disco.

A letra é sobre mudança:

Do what you got to do
And say what you got a say
Do what you got to do
Yes, start today
Start today

DAYDREAM

“Daydream” é a décima e derradeira faixa de Gish, com outra aposta acústica e vocais de D’arcy Wretzky. Encerra bem o álbum.

A letra fala sobre amor:

My daydream screams
Bitter 'til the end
The love I share, true
Selfish to the heart
My heart, my sacred heart

Ao final de “Daydream”, há uma faixa oculta chamada “I’m Going Crazy”.

Considerações Finais

Gish atingiu a modesta 146ª posição da principal parada norte-americana, mas o estrondoso sucesso posterior do grupo acabou fazendo com que ele se tornasse um sucesso tardio. Em números recentes, estima-se que Gish supere a casa de 1 milhão de cópias vendidas apenas nos Estados Unidos. Até o lançamento do álbum Samsh, da The Offspring, em 1994, Gish era o álbum independente mais vendido de todos os tempos.

Dos 3 singles retirados do disco (“Siva”, “I Am One” e “Rhinoceros”), nenhum fez barulho na principal parada norte-americana. A crítica especializada tem o trabalho em boa conta, recebendo elogios da Rolling Stone e do The New York Times, por exemplo. Tanto que, em 1º de abril de 2019, a revista Rolling Stone classificou Gish como o 32º melhor álbum de grunge de todos os tempos.

Retomando, após lançar o EP chamado Lull, em outubro de 1991, pela Caroline Records, a banda assinou formalmente com a Virgin Records, que era associada à Caroline.

A banda apoiou o álbum com uma turnê que incluiu abertura para bandas do porte de Red Hot Chili Peppers, Jane's Addiction e Guns N' Roses. Durante esta turnê, Iha e Wretzky passaram por uma separação conturbada, Chamberlin tornou-se viciado em narcóticos e álcool, e Corgan entrou em profunda depressão, compondo algumas músicas para o próximo álbum na garagem onde ele morava na época.

Um novo trabalho surgiria em 1993, com Siamese Dream. Mas isto é outra história.



Formação:
Jimmy Chamberlin - Bateria
Billy Corgan - Vocal, Guitarra, Baixo
James Iha - Guitarra
D'arcy Wretzky - Baixo, Backing Vocals, Vocal principal em "Daydream"
Músicos adicionais:
Mary Gaines - Violoncelo em "Daydream"
Chris Wagner - Violino em "Daydream"

Faixas:
01. I Am One (Corgan/Iha) – 4:07
02. Siva (Corgan) – 4:20
03. Rhinoceros (Corgan) – 6:32
04. Bury Me (Corgan) – 4:48
05. Crush (Corgan) – 3:35
06. Suffer (Corgan) – 5:11
07. Snail (Corgan) – 5:11
08. Tristessa (Corgan) – 3:33
09. Window Paine (Corgan) – 5:51
10. Daydream (Corgan) – 3:08

Letras:
Para o conteúdo completo das letras, recomenda-se o acesso a: https://www.letras.mus.br/smashing-pumpkins/

Opinião do Blog:
Após mais um período sabático, o RAC está de volta.

Escolhemos Gish, álbum de estreia do The Smashing Pumpkins, para marcar nosso retorno. E, após o texto, pensa-se que o leitor vai concordar com esta escolha.

Liderada pelo vocalista e guitarrista Billy Corgan, o Smashing Pumpkins é uma ótima banda, formada por membros bem competentes, com um destaque individual para o baterista Jimmy Chamberlain.

Em Gish, percebe-se uma banda que ainda está encontrando sua identidade musical, mas já demonstrando seu talento - e personalidade - com ótimas composições. Lançado no alvorecer daquilo que se costumou chamar de Grunge, Gish é um ótimo álbum de Rock, oscilando faixas pesadas e intensas com outras mais contidas e melancólicas.

Com apenas “Window Paine” destoando das demais, o RAC aponta a excepcional “Rhinoceros” e a furiosa “Tristessa” como suas favoritas.

Em suma, o Smashing Pumpkins é uma ótima banda que merece ser ouvida com atenção pelos leitores. Gish claramente não é seu auge, mas é um álbum muito bom, representativo de sua época, e, mais importante, uma boa coleção de músicas.

5 comentários:

  1. Que ótima notícia no meio dessa pandemia! Vida longa ao blog!

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  2. Ótimo descobrir que o RAC continua vivo. Tenho 60 anos e vivi minha adolescência nos anos 1970 (a era Led, Purple, Sabbath). Entrei para a faculdade no início dos anos 80 e meu repertório aumentou muito, com outras coisas entrando em minha vida musical (jazz, clássicos, MPB etc.); cheguei a ter mais de 3000 LPs. Obviamente, as coisas foram mudando até chegar a era do streaming. Pois bem, quando descobri seu blog, passei a rever e redescobrir bandas e discos incríveis. Li todos os seus posts e montei uma playlist com as recomendações sugeridas por você. Em suma, sei trabalho é brilhante e não encontra similar no Brasil. Não desista do RAC, mesmo que seus outros "filhotes" sejam também muito bons. Longa vida, meu caro.

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    1. Prezado Carlos,

      Sua mensagem realmente conseguiu me deixar emocionado. Pode-se soar clichê o que vou escrever agora, mas são palavras como estas que fazem com que eu prossiga.

      Fico muito feliz em saber que as recomendações que fiz por aqui te levaram a redescobrir algumas pérolas que o Rock deixou pelo caminho. Mas a maior felicidade é saber que está humilde página possui leitores como você.

      Só me resta agradecer, não apenas pelos generosos elogios, mas também pela injeção de ânimo para continuar com o RAC, pois sei que a missão a que me propus, há quase uma década, está sendo cumprida.

      Meu muito obrigado.

      Grande abraço,

      Daniel Benedetti

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  3. Emoção recíproca. Obrigado pelo feedback. Sigamos juntos.

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