9 de novembro de 2015

FREE - FREE (1969)


Free é o segundo álbum de estúdio da banda britânica de mesmo nome, ou seja, o Free. Seu lançamento oficial ocorreu em outubro de 1969 pelo selo Island Records. As gravações se deram entre janeiro e junho daquele mesmo ano, nos estúdios Morgan Studios e Trident Studios, em Londres, na Inglaterra. A produção ficou por conta de Chris Blackwell.

O Blog tem como um de seus melhores posts aquele sobre o álbum Fire And Water (1970), justamente do Free, que pode ser visto aqui. Brevemente, far-se-á uma pequena introdução sobre o grupo para depois se analisar o álbum.


Tons Of Sobs, primeiro álbum do Free, foi lançado no Reino Unido em 14 de março de 1969. O estilo proposto em sua estreia é predominantemente o Blues Rock.

Embora o álbum não houvesse conseguido repercutir nas paradas de sucesso do Reino Unido, chegou ao humilde 197º lugar nos Estados Unidos.

O Free era uma nova banda quando gravou Tons Of Sobs e seus músicos eram extremamente jovens; nenhum deles havia feito vinte anos e o mais jovem, o baixista Andy Fraser, estava com apenas 16 anos de idade.

O grupo havia conseguido uma boa experiência através de constantes turnês, sendo que seu álbum de estreia consistiu na maior parte de seu set-list ao vivo.

Quando a banda assinou contrato com a Island Records, de Chris Blackwell, Guy Stevens foi contratado para produzir o álbum (e ele mais tarde se tornaria inesquecível produzindo os primeiros álbuns do Mott the Hoople e do lendário álbum do The Clash, London Calling, de 1979).

Andy Fraser
Ele optou por uma atitude minimalista na produção, muito devido ao extremamente baixo orçamento de cerca de 800 libras, criando um som muito cru e estridente. Embora a relativa inexperiência da banda, com estúdios, também fosse um fator que contribuiu para o resultado final da produção.

Mesmo assim, o trabalho traz canções memoráveis como “Walk In My Shadow” e “I'm A Mover”.

Mas o Free conquistaria o público através de suas performances impressionantes nos shows da banda.

Na turnê para divulgar seu primeiro trabalho, o Free faria shows de abertura para o Blind Faith (de Eric Clapton) no Reino Unido e depois seguindo para a Europa onde fariam a abertura de bandas como Spooky Tooth e Jethro Tull.

Entre a turnê de divulgação para seu trabalho de estreia, o Free intercalava sessões de estúdio já trabalhando para seu segundo disco, desta feita autointitulado.

Há uma diferença marcante na musicalidade da banda para seu segundo trabalho, bem como na voz de Paul Rodgers. Se Tons Of Sobs havia sido produzido por Guy Stevens, Free foi produzido pelo próprio chefe da Island Records, Chris Blackwell.

Este álbum viu o florescimento da parceria musical entre Paul Rodgers e o baixista Andy Fraser, que havia sido vislumbrado em Tons Of Sobs em canções como “I'm A Mover”, sendo que oito das nove faixas são creditadas à parceria Fraser e Rodgers.

Possivelmente, como um dos resultados da influência de Fraser como compositor, o baixo é muito mais proeminente neste trabalho em relação ao álbum anterior. O instrumento é usado como uma guitarra-base, dirigindo as músicas, enquanto a guitarra de Kossoff se desenvolve a partir dele.

O álbum é notável por sua capa extremamente inovadora e impressionante, creditada a Ron Rafaelli, da The Visual Thing Inc. Ele é destaque no livro 100 Best Album Covers, ao lado de exemplos mais conhecidos, como a lendária capa, de autoria de Peter Blake, para Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band (1967), dos Beatles.

Paul Rodgers
Rafaelli fez a capa fotografando sua modelo com luzes estroboscópicas para fazer uma silhueta de encontro a um fundo, no qual poderia, então, sobrepor um design.

Assim, o álbum tem um design de uma mulher feita de estrelas pulando em todo o céu. O nome da banda é impresso em letras extremamente pequenas na parte superior da capa (desta forma, como o formato CD é muito menor que o LP, isso o torna quase ilegível no primeiro).

Vamos às faixas:

I'LL BE CREEPIN'

Um bom riff é a base da primeira faixa do álbum Free. O baixo de Andy Fraser está bastante proeminente e domina o ambiente. A pegada Bluesy é muito marcante e o ritmo cadenciado encanta. A atuação vocal de Paul Rodgers é impecável. O solo principal da guitarra de Paul Kossoff esbanja talento. Faixa incrível!

A letra é sobre desilusão amorosa:

Take all you things and move far away
Take all your furs and rings baby
But don't you sing hurray
You can change your address
But you wont get far
Don't make no difference wherever you are
Yeah 'cos I'll be creepin' baby
And I'll be creeping 'round your door


“I'll Be Creepin'” foi lançada como single, mas não obteve maior repercussão em termos de paradas de sucesso.



SONGS OF YESTERDAY

Outra vez em um ritmo bem cadenciado, "Songs Of Yesterday" traz o baixo de Andy Fraser como o principal destaque da canção, em uma posição dominante. Quem também brilha é o baterista Simon Kirke, fazendo um ótimo trabalho. Kossoff transborda feeling nos solos e Rodgers tem outra grande atuação nos vocais.

A letra possui alto teor de melancolia:

Sad song
Then i'll get on
On my way
Just like a song of yesterday
Listen to what i'm gonna say



LYING IN THE SUNSHINE

Uma lenta e suave melodia é a marca inicial da terceira composição presente no disco. O andamento arrastado traz um clima melancólico para a música, mas longe de ser ruim. Paul Rodgers opta por uma atuação vocal mais sóbria e contida e que se casa de maneira eficiente com o instrumental. A faixa demonstra uma faceta mais intimista do conjunto.

A letra possui sentido de leveza:

So let us lie in the sun
Let us dream all alone
Let our worries fly away
So happy here
So let me stay



TROUBLE ON DOUBLE TIME

O Rock com forte influência de Blues está de volta em "Trouble On Double Time". Aqui a guitarra de Paul Kossoff está mais ativa, embora o baixo de Andy Fraser ainda se sobressaia de maneira bastante acentuada. Kossoff destrói em outro solo muito bom. Mais um grande momento do álbum.

A letra é simples e se refere à fidelidade:

You know my school teacher
Told me before i left school
That a man with two women's
Not a man but a fool



MOUTHFUL OF GRASS

"Mouthful Of Grass" é uma faixa instrumental, a qual é dominada por um andamento arrastado e preenchida por um sentimento bastante bucólico. Há uma certa influência celta na melodia da canção, na qual se destacam Fraser e Kossoff.



WOMAN

"Woman" traz novamente uma pegada Bluesy, mas com uma dose surpreendente de peso, flertando muito proximamente com o Hard Rock da década seguinte. Desta maneira, a guitarra de Paul Kossoff brilha intensamente, sobre uma base perfeita construída por Fraser e Kirke. Como toque final, outra brilhante atuação de Rodgers. Faixa sensacional!

A letra é divertida e tem teor de interesse:

Marry me today
I'll give you everything, except my car, baby
Marry me today
I'll give you everything, but my guitar
But my guitar and my car



FREE ME

A introdução de "Free Me" apresenta o baixo de Fraser ainda mais dominante, em um clima tenso e obscuro. A voz de Rodgers contribui decisivamente para este aspecto sombrio apresentado pela canção. Kossoff faz um solo minimalista por volta dos dois minutos e meio que extrapola no feeling. Uma composição com forte influência Blues/Soul em um momento interessantíssimo do disco.

A letra intercala amor e sofrimento:

Morning comes
And the evening follows
Life without you
Knows no tomorrow
You leave me weary
And you leave me tired
But you fill my soul
With strange desire
But I love you babe
Yes I love all of you



BROAD DAYLIGHT

"Broad Daylight" talvez seja a faixa mais conhecida do álbum Free. A canção apresenta a guitarra de Paul Kossoff imprimindo peso e intensidade em um novo toque no Hard Rock. A melodia apresentada é belíssima, envolve o ambiente, catalisada pela monumental atuação de Paul Rodgers. O solo da guitarra de Kossoff é incrível. Um clássico.

A letra é uma mensagem de esperança:

Now the clock says it's time for bed
Time for sleep the moon just said
Time for tears in your dreams
Will the tears all disappear come


“Broad Daylight” é um dos maiores clássicos do Free. Mesmo assim, lançada como single, não conseguiu repercutir nas principais paradas de sucesso.



MOURNING SAD MORNING

A nona - e última - faixa de Free é "Mourning Sad Morning". Logo no início é possível ouvir a flauta de Chris Wood, um dos fundadores da banda Traffic. Trata-se de outra canção com uma pegada mais leve e lenta, mas desta feita com uma musicalidade bastante triste e melancólica. Rodgers casa de maneira perfeita seu vocal com a sonoridade e é o maior destaque da música.

A letra possui sentido romântico:

In the evening i sit
And my thoughts they turn to you
In the evening i think of my home
And i need you to remember
All the love we used to know
Think of me sometimes
My love



Considerações Finais

Com seus singles causando pouco (ou mesmo nenhum) barulho, o álbum não foi nada bem, comercialmente falando, em seu período de lançamento.

Mesmo assim, atingiu a modesta 22ª posição na principal parada de sucesso britânica, mas não repercutiu nada na correspondente norte-americana.

Mas, com o passar do tempo e o Free se tornando conhecido – bem como seus membros no decorrer de suas próprias carreiras – o álbum Free passou a ser admirado e muito respeitado. Tanto que a banda Three Dog Night fez versões cover de “I'll Be Creepin'” e “Woman”.

Ao mesmo tempo, enquanto Fraser e Rodgers fortaleciam uma parceria como compositores, as tensões dentro da banda aumentavam.

Kossoff, cuja espontaneidade natural tinha sido alimentada até então, particularmente, ressentia-se em ser obrigado a seguir rigidamente partes muito específicas da guitarra-base criadas por Fraser.

Foi um período estranho que viu ambos, Kossoff e o baterista Simon Kirke, chegarem perto de deixarem a banda.

Só a intervenção sempre diplomática do chefe da gravadora, Chris Blackwell, parece ter evitado isso, assim como manteve a banda disciplinada e focada na gravação do disco.

Dave Thompson, do Allmusic, dá ao álbum uma nota 4 de um 5 máximo possível, apontando o disco como uma referência no Blues Rock britânico.

Apesar dos problemas, a banda continuou junta, fazendo turnês e se mantendo sempre exibindo seu talento em shows durante todo o ano de 1969.

Assim, entre um show e outro, o grupo entra o ano de 1970 já compondo e fazendo gravações do que seria seu terceiro álbum de estúdio, Fire And Water.


Formação:
Paul Rodgers - Vocal
Paul Kossoff - Guitarra
Andy Fraser - Baixo
Simon Kirke - Bateria

Faixas:
01. I'll Be Creepin' (Fraser/Rodgers) – 3:27
02. Songs of Yesterday (Fraser/Rodgers) – 3:33
03. Lying in the Sunshine (Fraser/Rodgers) – 3:51
04. Trouble on Double Time (Fraser/Rodgers/Kirke/Kossoff) – 3:23
05. Mouthful of Grass (Fraser/Rodgers) – 3:36
06. Woman (Fraser/Rodgers) – 3:50
07. Free Me (Fraser/Rodgers) – 5:24
08. Broad Daylight (Fraser/Rodgers) – 3:15
09. Mourning Sad Morning (Fraser/Rodgers) – 5:04

Letras:
Para o conteúdo completo das letras, recomenda-se o acesso a: http://letras.mus.br/free/

Opinião do Blog:
Certamente o Free não teve o sucesso que merecia e, até hoje, permanece uma banda não tão conhecida do público em geral, ao menos no Brasil. Mas trata-se de uma das formações mais talentosas da história do Rock.

Seus álbuns iniciais, como o que está apresentado neste post, mostra uma banda com forte influência do Blues norte-americano, fundindo-o de maneira especial com sua forte veia Rock. Mais que isto, já em Free, a banda apresenta pequenos toques do Hard Rock sensacional que apresentaria no futuro, como no álbum Fire And Water (1970).

Saber que se tratavam de adolescentes gravando este trabalho de tanta qualidade realmente causa espanto. O baixo de Andy Fraser está o tempo todo presente, criando a base sobre a qual a guitarra de Paul Kossoff desfila todo o talento do músico. Tudo isto é recheado com uma atuação impecável de Paul Rodgers, um vocalista muito acima da média.

As letras são simples, mas não comprometem a qualidade do trabalho.

O álbum Free ainda não representa o ápice do conjunto homônimo, mas é um disco de qualidade muito alta. As composições são fortes e de um bom gosto absurdo.

A Bluesy "I'll Be Creepin'" encanta com seu ritmo lento e forte, bem como em "Songs Of Yesterday". As baladas com toques melancólicos funcionam de maneira muito eficiente como em "Lying In The Sunshine" e em "Mourning Sad Morning".

Ainda há a incrível e pesada "Broad Daylight", um clássico inconteste da banda. Sem falar em "Woman", uma das melhores composições do catálogo do grupo.

Enfim, o Free era uma banda composta por músicos muito jovens, mas com um talento extraordinário para suas baixas idades. Seu segundo trabalho apresenta um grupo desenvolvendo sua identidade musical, demonstrando canções inspiradas e de muito bom gosto, apontando para um futuro que seria brilhante. Álbum muito bem recomendado pelo Blog!

2 comentários:

  1. Disco maravilhoso de uma das minhas bandas favoritas de todos os tempos. Todos os discos até o Free Live! são muito bons. Free at Last é um pouco abaixo dos anteriores e Heartbreaker encerrou a carreira da banda em alta, e é uma pena que Paul Kossof não sobreviveu e a carreira solo de Andy Fraser não decolou - sobraram apenas Rodgers e Kirke no grande Bad Company. A versão ao vivo de Free Me é de arrepiar!

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    1. Pois é, Marcello. Uma pena o Paul Kossoff ter vivido tão pouco, ele foi um guitarrista espetacular. O Free também é uma das minhas bandas preferidas. Abraço!

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