Texto postado originalmente na Consultoria do Rock, em 23/02/2024
No ano de 1981, o Accept já havia lançado seus dois primeiros álbuns de estúdio: Accept [1979] e I’m Rebel [1980], ambos pelo selo Brain Records e sem atingir o sucesso esperado.
Após a tentativa frustrada de uma abordagem mais comercial em I’m a Rebel, o Accept decidiu não permitir que pessoas alheias à banda influenciassem novamente no direcionamento do grupo. Os caras se reuniram em meio a um inverno muito frio, concentrando-se em fazer o disco que ficou conhecido como “o álbum eles queriam fazer”.
Udo Dirkschneider, vocalista do grupo na época, chegou a afirmar: “Seguindo nossas experiências com I’m A Rebel, estabelecemos como objetivo não sermos influenciados musicalmente por ninguém de fora da banda desta vez.” Boa parte do álbum traz um tom raivoso e, especialmente “Son of a Bitch”, é repleta de palavrões. Udo descreve a letra dessa música como “absolutamente anti-gravadora”.
Wolf Hoffmann, guitarrista do grupo, explica o motivo dessa música ser a única que não teve sua letra impressa dentro do álbum: “No lançamento inicial, pensamos que seria uma boa ideia basta colocar ‘Censored’ no encarte para evitar qualquer controvérsia. Bem, acontece que causou mais polêmica dessa forma, com todos querendo saber quem a censurou”.
Uma versão alternativa intitulada “Born to Be Whipped” foi gravada com letras mais amenas. Wolf relembra: “Tivemos que mudá-la porque os britânicos eram tão tensos com esse tipo de coisa que não seria possível lançar o disco lá com uma música chamada Son of a Bitch.”. O grupo trazia a mesma formação do disco anterior, I’m a Rebel: Udo Dirkschneider nos vocais, Wolf Hoffmann e Jörg Fischer nas guitarras, Peter Baltes no baixo e backing vocals e Stefan Kaufmann na bateria e backing vocals.
O disco foi gravado no Delta Studio, em Wilster, na Alemanha, entre dezembro de 1980 e janeiro do ano seguinte. Seu lançamento oficial aconteceu 16 de março de 1981, outra vez pelo selo Brain Records. A produção ficou por conta do famoso produtor Dirk Steffens.
“Starlight” é uma porrada bem direta, abrindo o disco com peso e identidade. A faixa-título, obviamente “Breaker”, traz mais velocidade e um riff afiado, com ótima atuação da dupla de guitarristas.”Run If You Can” mantém a mesma pegada e conta com um refrão magnético. “Can’t Stand the Night” é uma balada de atmosfera mais sombria e bons vocais de Udo. “Son of a Bitch” é um Heavy Metal tradicional com bons solos. “Burning” é ótima, com boas doses de agressividade e um refrão pegajoso, no melhor sentido. “Feelings” mantém o peso, mas aposta em uma dinâmica mais lenta, novamente com vocais inspirados. “Midnight Highway” é um Hard Rock, fugindo da sonoridade predominante do disco, mas não passa de regular. “Breaking Up Again” é outra balada, bem suave, cantada pelo baixista Peter Baltes. O disco é encerrado com a muito boa “Down and Out”.
Breaker é a primeira vez em que o Accept foi, de fato, o Accept, na forma em que a banda seria mais conhecida, especialmente nos anos 1980. Um álbum consistente, calcado em uma sonoridade Heavy Metal (com singular influência do Judas Priest), apostando em riffs ferozes e uma seção rítmica sólida e pesada, uma pegada que seria ainda melhor trabalhada nos álbuns seguintes, especialmente Restless and Wild (1982) e Balls to the Wall (1983). E, claro, o vocal único do grande Udo Dirkschneider.
“Burning” foi o single principal para promoção do disco, com “Breaker” sendo lançada como single no Japão e “Starlight” no mercado europeu. Accept foi convidado para se juntar à World Wide Blitz Tour, do Judas Priest, e obteve atenção fora da Europa pela primeira vez. Restless and Wild foi lançado em 1982, embora Jörg Fischer tenha saído da banda pouco tempo antes da gravação.
Uma curiosidade para se encerrar a resenha: Udo acredita que Breaker está entre os melhores discos do Accept e marca o início da era de ouro da banda que duraria até 1985 – o título do álbum mais tarde se tornaria o nome do selo do Udo, a Breaker Records.
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