17 de março de 2018

CIRCLE II CIRCLE - BURDEN OF TRUTH (2006)


Burden of Truth é o terceiro álbum de estúdio da banda norte-americana Circle II Circle. Seu lançamento oficial aconteceu em 10 de outubro de 2006, através dos selos AFM e Locomotive Records. As gravações ocorreram no Morrisound Studios, em Tampa, na Flórida, nos Estados Unidos durante o ano de 2006. A produção ficou a cargo de Zachary Stevens, Dan Campbell e Jim Morris.

É hora do RAC trazer, pela primeira vez em suas páginas, a banda Circle II Circle, com o álbum Burden of Truth. Vai-se, resumidamente, abordar os fatos que antecederam o lançamento do disco para depois se ater às faixas propriamente ditas.



The Wake of Magellan

Em 15 de setembro de 1997, o Savatage lançava The Wake of Magellan, seu décimo álbum de estúdio.

The Wake of Magellan é um disco sensacional, com faixas incríveis como “Turns to Me”, “Morning Sun” e “Anymore”.

Naquela época, o vocalista do Savatage era Zachary ‘Zak’ Stevens.

The Wake of Magellan tratou de conceitos como o valor de uma vida, suicídio e abuso de drogas, com base em eventos da vida real, como o Maersk Dubai e o assassinato de Veronica Guerin. (Nota do Blog: Em 12 de março de 1996, dois passageiros clandestinos, Radu Danciu e Petre Sangeorzan, foram descobertos no navio de carga Maersk Dubai e encomendados ao mar, por uma balsa improvisada, a aproximadamente 70 quilômetros da costa de Gibraltar. Em 18 de maio do mesmo ano, enquanto o navio estava em rota para o Porto de Halifax, Nova Escócia, outro romeno, Gheorghe Mihoc, foi encontrado escondido em um grande recipiente de carga e foi lançado ao mar, ao ponto da faca, pelo Capitão Sheng Hsiu e quatro de seus oficiais. Um quarto passageiro clandestino, Nicolae Pasca, foi descoberto pelo filipino Rodolpho "Rudy" Miguel e manteve-se escondido até que o navio chegou a Halifax, onde oito tripulantes filipinos (incluindo Miguel) deixaram o navio e relataram o incidente às autoridades. À chegada a Halifax, o Maersk Dubai foi invadido pela Royal Canadian Mounted Police (GRC), e o capitão Hsiu e seus oficiais taiwaneses foram presos e acusados de assassinato em primeiro grau. O operador de rádio tentou escapar pulando no porto e depois foi preso. O capitão Hsiu tentou negar o acesso ao navio de acordo com as leis de frete internacional).

(Nota do Blog: Veronica Guerin foi uma jornalista irlandesa. Começou tardiamente na profissão, depois dos 30 anos, e gostava do jornalismo investigativo. Exemplo de determinação e coragem, sua vontade incessante por justiça fez com que pagasse com a vida a investigação a fundo sobre a máfia e o tráfico de drogas em Dublin, capital da Irlanda, durante a década de 1990. Denunciou também a ligação que alguns dos mais importantes gângsteres tinham com o IRA. Sofreu um atentado e chegou a ser espancada por um dos maiores mafiosos da cidade. Depois do seu assassinato, a população da Irlanda se revoltou e foi às ruas fazer protestos, e os barões do tráfico tiveram seus bens confiscados e foram presos).

O Savatage deixou, após um contrato de longo prazo, a Atlantic Records depois deste lançamento e, eventualmente, assinou com uma organização muito menor, a Nuclear Blast. Jon Oliva, líder do grupo, disse que esta foi uma boa jogada, já que a nova gravadora “adorava a banda e eles conheciam nossas músicas e tudo!”.

A partir de 1996, Stevens apareceria junto com outros membros do Savatage no projeto paralelo chamado Trans-Siberian Orchestra. Seu último álbum gravado com o Savatage foi mesmo The Wake of Magellan (1997), que alguns fãs consideram o melhor trabalho do grupo pós-1993.

Trans-Siberian Orchestra

O projeto Trans-Siberian Orchestra surgiu com o produtor, compositor e letrista Paul O'Neill, reunindo Jon Oliva e Al Pitrelli (ambos membros do Savatage) e o tecladista e coprodutor Robert Kinkel para formar o núcleo criativo do conjunto. Normalmente, o grupo convidava diversos artistas para participarem das gravações e turnês, especialmente vocalistas.

Zak Stevens
Zak Stevens participou da gravação de 3 álbuns de estúdio do grupo até aquele momento: Christmas Eve and Other Stories (1996), The Christmas Attic (1998) e Beethoven's Last Night (2000).

Mudanças

Em 2000, Stevens deixou o Savatage, citando que queria passar mais tempo com sua jovem família. Durante o inverno norte-americano de 2001, Zak começou seu retorno às suas atividades musicais.

Zak começou seu retorno com seu amigo de longa data, Dan Campbell, coescrevendo material com Jon Oliva e o guitarrista Chris Caffery (ambos do Savatage). Foi neste momento que Stevens e Campbell resolveram criar um conjunto, o Circle II Circle.

Muito do material novo se tornaria as músicas do álbum de estreia da nova banda, Watching in Silence.

Watching in Silence

Em 29 de abril de 2003, o Circle II Circle lançou Watching in Silence, seu primeiro álbum de estúdio.

Além de Zak Stevens nos vocais, o disco conta com os tecladistas Jon Oliva e John Zahner, os guitarristas Chris Caffery e Matt La Porte, o baixista Kevin Rothney e o baterista Christopher Kinder.

Os amigos Dan Campbell e Jon Oliva auxiliaram Zak Stevens na produção do disco, o qual conta com ótimas canções como “Into the Wind” e “Face to Face”.

Em 2005, o grupo passaria por uma drástica mudança de formação que resultou no EP chamado All That Remains.

The Middle of Nowhere

Em 30 de agosto de 2005, o Circle II Circle lançou The Middle of Nowhere, seu segundo álbum de estúdio.

Este foi o primeiro álbum com a nova constituição da banda, a qual se reuniu depois que Stevens demitiu toda a formação original, em 2003.

Como no primeiro disco da banda, ele apresenta aparições de convidados e créditos de composição para os antigos companheiros de Savatage, Jon Oliva e Chris Caffery.

Além de Zachary Stevens nos vocais, o disco conta com os guitarristas Evan Christopher e Andrew Lee, o baixista Mitch Stewart e o baterista Tom Drennan.

Mitch Stewart
Boas faixas de The Middle of Nowhere são “Holding On” e “Faces in the Dark”.

Burden of Truth

O terceiro lançamento da banda seria um álbum conceitual intitulado Burden of Truth, baseado em torno do conceito de descendentes de Jesus e tomando como referência o livro The Da Vinci Code, de Dan Brown. (Nota do Blog: The Da Vinci Code (O Código Da Vinci nas edições brasileiras e portuguesas) é um romance policial do escritor norte-americano Dan Brown, publicado em 2003 pela editora Random House nos EUA. É um best-seller mundial, décimo primeiro livro mais vendido no mundo com mais de 80 milhões de cópias. Causou polêmica ao questionar a divindade de Jesus Cristo. A maior parte do livro desenrola-se a partir do assassinato de Jacques Saunière, curador do museu do Louvre. Robert Langdon, Sophie Neveu e Leigh Teabing vivem várias aventuras ao tentar desvendar códigos que deem resposta aos enigmas que Jacques Saunière deixou no leito de morte).

Ao contrário dos dois primeiros álbuns da banda, este disco não possui aparições convidadas dos ex-companheiros de Savatage, Chris Caffery e Jon Oliva.

O conceito da história abordada pelas letras presentes no álbum foi desenvolvido pelo vocalista Zak Stevens e pelo seu amigo produtor do grupo, Dan Campbell.

A capa, belíssima, foi idealizada por Dan Campbell e desenhada pelo artista Thomas Ewerhard.

Vamos às faixas:

WHO AM I TO BE?

O disco é aberto com uma faixa que traz os ótimos vocais de Zak Stevens em uma sonoridade mais cadenciada, mas que conta com guitarras pesadas e marcantes. A bateria também está muito boa. Um Hard/Heavy de categoria.

A letra é sobre a procura de si mesmo:

Who am I to be?
You could never see
Always pretending
What you are to me
What am I to say?
When all you do is hate
Got some news
Nobody wins this game
This game



A MATTER OF TIME

Em "A Matter of Time", o grupo aposta mais firmemente no Heavy Metal, pois a música é baseada em um bom riff, pesado e marcante. O refrão, mais suave e cadenciado, é bem legal, assim como o solo de guitarra. Ótima canção.

As letras refletem a descoberta de Saunière:

Will you hold on forever
To the change that held you down
Believe you'll never
Abandon the way that you found



HEAL YOU

A ótima "Heal You" traz à mente o soberbo Metal oitentista, com um riff soberano e a seção rítmica imprimindo um peso incrível, graças aos bons trabalhos do baterista Tom Drennan e do baixista Mitch Stewart. O solo de guitarra é, novamente, cativante. Grande momento do álbum!

A letra é sobre descobertas:

All of us falling
On the sacred roads they've led us
Hear the calling
They will never forget us



REVELATIONS

A bateria se encontra ainda mais intensa na pesada "Revelations" e é o maior destaque da faixa, ao lado da ótima atuação vocal de Zak Stevens. Mesmo com um andamento mais cadenciado, o peso é constante nesta composição.

A letra é sobre confiança:

Don't want to let you go
Never could let it show
Why do I always trust you
I cannot let it go
I've carried on the line
And made the most of time
Waiting for this day to arrive



YOUR REALITY

Em "Your Reality", o Circle II Circle pisa no freio e opta por um andamento mais arrastado. A melodia é mais suave e o baixo de Mitch Stewart domina. O refrão é mais pesado e intenso, em uma construção interessante, mesmo que não inovativa. Excelente atuação de Zak Stevens.

A letra é sobre como lidar com novas descobertas:

How will you deal with things
You perceive as real
What's left to offer
Time to reach right down
Into what you feel
At the cost of trust
Would they seek you again



EVERMORE

Faixa mais curta do disco, o grupo faz uma abordagem muito pesada e técnica, trazendo à memória, os momentos intensos do Dream Theater. Apesar de sua duração efêmera, é uma canção interessante.

A letra critica a religião:

All of the people who tried
To make peace
And they died
All of their fortresses shine
Like the cross
As they ride
Never unfolding the truth
Still unknown
Altering consciousness
Evil has flown
Following mercy alone
The masses have grown



THE BLACK

"The Black" traz uma sonoridade muito interessante, alternando passagens mais suaves e melódicas com outras pesadas e muito intensas. Os vocais de Zak Stevens estão excelentes. A estrutura da composição é muito semelhante ao que Stevens fazia no Savatage.

A letra é um desejo de libertação:

Into the black
With a final chance to save my soul
Waiting for something
To release me from this hold



MESSIAH

"Messiah" é um deleite para fãs de Heavy Metal, pois é uma composição pesada, intensa e que, sem firulas, vai diretamente ao ponto. As guitarras estão ótimas muito por conta do afiado trabalho da seção rítmica a qual, mesmo de modo suave, flerta com o Thrash.

A letra menciona um novo salvador:

Still the world keeps turning
Through the maze of lies
I am returning
To replace your lives
Feel them closing in
Follow me this night
Blood is their desire
Enter the new Messiah



SENTENCED

"Sentenced" traz uma sonoridade mais suave e melodiosa ao trabalho. Zak Stevens, como de costuma, brilha nos vocais enquanto as guitarras aparecem bem, especialmente nos solos. Boa composição.

A letra revela consequências de uma nova vida:

Why does it always have to end?
I had all the perfect things
Never feels like things will change
All that's left are fears and shame



BURDEN OF TRUTH

"Burden of Truth" traz a maior faixa do disco homônimo, beirando os 7 minutos de duração. Em uma construção muito bonita, o grupo apresenta uma musicalidade Hard/Heavy em que alterna passagens intensas com suaves, mas sem perder o peso. Novamente, o Savatage volta à mente.

A letra questiona novos caminhos:

Find a new horizon
In the ways
That we have found
And we'll find
A better life
Like the times we had



LIVE AS ONE

A décima-primeira - e última - faixa de Burden of Truth é "Live as One". O álbum é encerrado com um Heavy Metal padrão, trazendo peso e melodia se complementando de modo harmônico e muito competente. Boa atuação de Stevens e ótimo solo de guitarra.

A letra revela um mundo que perdeu suas crenças:

How can we learn to live as one
How can we run from things we've done
Could we ever let it go
How can we learn to live as one
Is there nothing left to follow



Considerações Finais

Burden of Truth confirmou a boa qualidade do Circle II Circle como banda de Heavy Metal.

Embora seja um ótimo trabalho, acabou não repercutindo em termos das principais paradas de sucesso do mundo, ou seja, a norte-americana e a britânica.

A crítica especializada normalmente elogia o disco. O site AllMusic dá uma nota 3 (de 5) ao trabalho.

Scott Alisoglu, do site Blabbermouth, dá ao álbum uma nota 8,5 (de 10), afirmando: “Melodia é a chave e Stevens, juntamente aos guitarristas Andy Lee e Evan Christopher, o baixista Mitch Stewart e o baterista Tom Drennan entregam-na de uma maneira que permanece com você de música em música. É um álbum em que você pode escolher qualquer corte e delirar com os ascendentes vocais de Stevens e a performance sincera da banda”.

Por fim, Alisoglu define: “Além da queixa sobre a mixagem de som (...) não consigo achar nada errado com esse álbum. Burden of Truth merece ser ouvido por muito mais pessoas que provavelmente terão a chance de verificá-lo. É um dos melhores álbuns melódicos de hard rock/metal de 2006”.

Logo depois do lançamento do disco, tanto Zak Stevens quanto o Circle II Circle assinaram um acordo de gestão com a Intromental Management.

Delusions of Grandeur, quarto álbum de estúdio do grupo, foi lançado em agosto de 2008.



Formação:
Zak Stevens - Vocal
Paul Michael "Mitch" Stewart - Baixo, Teclados, Guitarras, Backing Vocals
Andrew Lee - Guitarras, Backing Vocals
Tom Drennan - Bateria, Backing Vocals
Evan Christopher - Guitarras, Backing Vocals

Faixas:
01. Who Am I to Be? (Stevens/Stewart/Lee) - 5:03
02. A Matter of Time (Stevens/Stewart) - 4:08
03. Heal You (Stevens/Stewart/Lee) - 4:16
04. Revelations (Stevens/Stewart) - 3:41
05. Your Reality (Stevens/Stewart) - 4:29
06. Evermore (Stevens/Stewart) - 2:53
07. The Black (Stevens/Stewart/Lee) - 4:55
08. Messiah (Stevens/Stewart) - 3:31
09. Sentenced (Stevens/Stewart/Lee) - 4:58
10. Burden of Truth (Stevens/Stewart) - 6:44
11. Live as One (Stevens/Stewart) – 5:05

Letras:
Para o conteúdo completo das letras, recomenda-se o acesso a: https://www.letras.mus.br/circle-ii-circle/

Opinião do Blog:
Em 2006, Zak Stevens já era um nome conhecido e consagrado, ao menos entre o público fiel do Heavy Metal que acompanhava a lendária banda que o consagrou: o fantástico Savatage. Com ela, Stevens gravou discos muito bons como The Wake of Magellan, de 1997.

Após deixar o Savatage e constituir o Circle II Circle, Stevens ainda foi auxiliado por ex-companheiros de banda, Jon Oliva e Chris Caffery, em seus 2 primeiros discos no novo conjunto, Watching in Silence e The Middle of Nowhere.

Deste modo, Burden of Truth é o primeiro esforço de Stevens sem seus amigos do Savatage. E se pode afirmar que o Circle II Circle se saiu de modo excelente, superando expectativas.

O primeiro ponto é que Zak Stevens se cercou de um grupo bastante competente de músicos e quem ouve o disco percebe o ótimo trabalho tanto nas guitarras quanto na seção rítmica. Claro, Stevens tem uma atuação excelente e é o destaque individual do álbum.

O segundo ponto é que a sonoridade padrão escolhida é o Heavy Metal, o qual se apresenta moderno, mas com ótimos referenciais. Por vezes, a musicalidade flerta com o Hard Rock e até com o Metal Progressivo, mas a referência principal é, ainda, o próprio Savatage.

Para tornarem as coisas ainda mais difíceis, Stevens resolveu que Burden of Truth seria um álbum conceitual, baseado na obra Código da Vinci. Mas recomendamos que o leitor ouça o trabalho acompanhando as letras e perceba que os compositores conseguiram, de modo muito orgânico e eficiente, criarem o arcabouço temático entre as composições e o ligarem à instrumentalidade sonora da obra.

Sendo assim, Burden of Truth não possui canções de enchimento ou desnecessárias, constituindo-se em um álbum coeso e consideravelmente homogêneo.

O Heavy Metal clássico é reverenciado na ótima "A Matter of Time". Toques de 'Prog Metal' são palpáveis em "Evermore" enquanto "Your Reality" é intensa e tocante, ao mesmo tempo!

Mas o Circle II Circle caprichou no Hard/Heavy de "Heal You", na belíssima mistura de melodias da faixa-título, "Burden of Truth", e no peso absurdo de "The Black", possivelmente a preferida do RAC.

Concluindo, os méritos de Burden of Truth não estão em tentar construir nada novo ou ainda revolucionário, mas são facilmente encontrados na qualidade tanto de suas composições quanto na sua brilhante execução. O Circle II Circle bebeu em ótimas fontes, principalmente no sensacional Savatage (como não poderia deixar de ser) e trouxe, em Burden of Truth, um dos álbuns mais divertidos de Heavy Metal dos anos 2000, ao menos para o Blog. Altamente recomendado!

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