9 de abril de 2016

STEPPENWOLF - STEPPENWOLF (1968)


Steppenwolf é o álbum de estreia da banda canadense de mesmo nome, ou seja, o Steppenwolf. Seu lançamento oficial aconteceu em 29 de janeiro de 1968, por conta do selo ABC Dunhill. As gravações ocorreram durante o inverno norte-americano de 1967 no American Recording Co. Studio, na Califórnia, EUA. A produção ficou sob responsabilidade de Gabriel Mekler.

O Steppenwolf é uma banda que obteve muito sucesso de crítica e comercial, especialmente no fim dos anos 60 e início da década seguinte. O Blog vai abordar as origens do grupo e, depois, focar-se no álbum propriamente dito.


Para se chegar às origens do Steppenwolf, é necessário que se volte ao ano de 1964, na cidade de Oshawa, no estado de Ontario, no Canadá. Lá surgiu um grupo predominantemente 'pop' chamado Jack London and The Sparrows.

A primeira formação da banda era composta pelo emigrante britânico Dave Marden (que usava o pseudônimo Jack London), pelo guitarrista canadense Dennis Edmonton (nascido Dennis McCrohan) e pelo tecladista Dave Hare.

Logo depois, o irmão de Dennis, Jerry Edmonton, assumiu a bateria e Brent Maitland se tornou o baixista do grupo.

Com outras mudanças de formação, o Jack London and The Sparrows gravou alguns singles de muito sucesso no Canadá, além de um único álbum, Presenting Jack London and The Sparrows, em 1965.

Por volta da metade de 1965, o grupo estava começando a progredir para além das suas primeiras influências britânicas e começava a incorporar influências de um som blues-rock norte-americano.

Ao mesmo tempo, o ressentimento foi crescendo sobre o papel de London na banda; ele havia assinado o contrato de gravação para que pudesse recolher a maioria dos royalties do grupo.

Como resultado, a banda se separou de London (que seguiu carreira solo) e formou o The Sparrows.

Formada pelo vocalista, compositor e guitarrista Dennis Edmonton, seu irmão e baterista Jerry Edmonton e o baixista Nick St. Nicholas, o The Sparrows gravou o single “Hard Times With The Law”.

Logo depois, o grupo adicionou dois novos membros: o vocalista/guitarrista/gaitista e compositor John Kay e o tecladista Goldy McJohn.

Com a nova formação e uma sonoridade ainda mais baseada no Blues Rock, a banda ganhou popularidade e chamou a atenção de gente como Stanton J. Freeman, responsável por levá-los para a cidade de New York, nos Estados Unidos.

Durante 1966, o grupo lançou 2 singles pela Columbia Records: “Tomorrow's Ship” que era acompanhado por “Isn’t It Strange”, e “Green Bottle Lover”, este, acompanhado por “Down Goes Your Love Life”.

John Kay
Em sequencia, a banda abandonou o Canadá (e Nova York) atrás de climas mais quentes, rumando para a Califórnia. Durante novembro de 1966, o The Sparrows estreou no It's Boss, em West Hollywood.

Pouco tempo depois, eles se mudaram para San Francisco, onde se apresentariam no Ark, nas proximidades de Sausalito, bem como no Matrix e no Avalon Ballroom.

O grupo continuou a ficar entre Los Angeles e San Francisco ao longo dos primeiros seis meses de 1967, apresentando-se ao lado de bandas como The Doors, The Steve Miller Band e muitas outras.

Durante junho de 1967, Dennis Edmonton anunciou sua decisão de seguir carreira solo e a banda recrutou o guitarrista norte-americano Michael Monarch no início de julho.

Dennis Edmonton, posteriormente, mudou seu nome para Mars Bonfire.

A saída de Dennis Edmonton, no entanto, acelerou o declínio da banda, e o grupo se dividiu em duas facções. Nick St. Nicholas e o novo recruta Michael Monarch inicialmente formaram um novo grupo, chamado de TIME.

Entretanto, Monarch logo abandonou este projeto e se reuniu com John Kay, Goldy McJohn e Jerry Edmonton no Steppenwolf. Como Steppenwolf, eles tocavam em locais como o lendário Whisky a Go Go.

O baixista Rushton Moreve se juntou à banda após responder a um anúncio do grupo em lojas de discos e instrumentos musicais de Los Angeles.

O nome Steppenwolf foi sugerido para John Kay por Gabriel Mekler, sendo inspirado no romance de mesmo nome, de Hermann Hesse.

Goldy McJohn
Os dois primeiros singles do Steppenwolf foram "A Girl I Knew" e "Sookie Sookie".

As primeiras edições do álbum de estreia da banda, conhecida como "fundo de prata", credita "Mars Bondfire" como compositor de "Born to be Wild", tanto na frente do LP como na parte traseira da capa do mesmo.

A cor de fundo da capa original do LP, lançado pela ABC Dunhill, era prata, em contraste com lançamentos posteriores (da MCA Records) e do CD, em que foi substituído pela cor branca.

Foi o único álbum da banda a ter sido lançado em ambas as configurações, estéreo e mono. Embora este último seja simplesmente uma alteração da versão stereo, é procurado como um item de colecionador.

A arte da capa é obra de Gary Burden. Vamos às faixas:

SOOKIE SOOKIE

Um ritmo bastante envolvente e malicioso é a tônica de "Sookie Sookie". As guitarras estão presentes e o baixo de Rushton Moreve é quem dita o ritmo de maneira muito presente. Uma abertura promissora para o álbum.

A letra é simples e divertida:

You better watch your step girl, don't step on that banana peel
If your foot should ever hit it, you'll go up to the ceiling
Hang it in baby, hang it in baby
Sookie, Sookie, Sookie, Sookie, Sookie, Sookie, Sue

Trata-se de um cover da canção originalmente composta por Don Covay e Steve Cropper. Foi lançada como single, mas não obteve maior repercussão nas paradas de sucesso.



EVERYBODY'S NEXT ONE

Uma aura do Rock sessentista está muito presente em "Everybody's Next One", com muito ritmo e melodia. As guitarras novamente estão marcando presença, bem como o órgão de Goldy McJohn. Contagiante e empolgante.

A letra se refere a uma garota:

She doesn't know why she's everybody's next one
'Cause she's afraid that the truth is gonna hurt some
All the pity in the world ain't gonna help none
She has to realize that to keep one, her ways have to change some



BERRY RIDES AGAIN

Já "Berry Rides Again" bebe nas origens do Rock & Roll nos anos 50, com o protagonismo todo com o piano de Goldy McJohn e uma interpretação bastante competente de John Kay. Certamente um dos pontos altos do registro.

Como o próprio nome sugere, a música é uma homenagem a Chuck Berry:

I used to hold her and try to mold her
Somebody told her, Nadine and I were bolder
I left there in the mornin'
Went back to Memphis, Tenneessee
You know, I never saw her face again
And that's alright with me



HOOCHIE COOCHIE MAN

"Hoochie Coochie Man" é uma das mais importantes e emblemáticas canções do Blues. Aqui, o Steppenwolf faz uma competente versão, com um instrumental denso e pesado, imprimindo muita intensidade à faixa.

A letra é bem divertida:

On the seventh hour
Oh Lord, on the seventh day
I tell you on the seventh month, child
Hey, the seven doctors say
Now he was born for luck
I said, baby, don't you see
I got seven hundred dollars darlin'
Don't you mess with me

Trata-se de uma versão para a clássica “I'm Your Hoochie Coochie Man”, do Bluesman Willie Dixon, e gravada pela primeira vez por outra lenda do Blues, Muddy Waters.



BORN TO BE WILD

Fugindo da proposta do álbum até então, o Steppenwolf apresenta uma das mais clássicas introduções da história do Rock. Logo o ouvinte sente a urgência das guitarras que estão casadas de maneira intrínseca com a atuação de John Kay nos vocais. O refrão é mundialmente conhecido e representa o clímax da canção. Um clássico.

É uma letra com o espírito Rock 'n' Roll:

Get your motor running
Head out on the highway
Lookin' for adventure
In whatever comes our way

“Born To Be Wild” é um dos maiores clássicos do Rock em todos os tempos.

Lançada como single, atingiu a excepcional 2ª posição da parada norte-americana desta natureza, conquistando a 30ª colocação na correspondente britânica.


A canção foi composta pelo antigo companheiro de banda do Steppenwolf, Dennis Edmonton, o qual passou a se chamar de Mars Bonfire.

Bonfire compôs “Born To Be Wild” originalmente como uma balada. Embora inicialmente ele tenha oferecido a canção para outras bandas - The Human Expression, por exemplo - "Born to Be Wild" foi gravada pela primeira vez em 1967, pelo Steppenwolf, que a acelerou e trouxe novos arranjos.

Outra marca importante sobre “Born To Be Wild” é a sua presença como trilha sonora do filme Easy Rider (1969, dirgido por Dennis Hopper) e estrelado por Peter Fonda. Ambos (filme e música) ficaram associados de forma quase indistinta, embora, originalmente, Fonda quisesse que Crosby, Stills & Nash fossem os autores da trilha sonora do filme.

O verso “Heavy Metal Thunder”, contido na faixa, é tido como uma das primeiras associações do termo Heavy Metal com a música. Pouco tempo depois, o mesmo estaria associado às vertentes mais pesadas do Rock.

A revista Rolling Stone colocou a canção como a 129ª colocada de sua lista 500 Greatest Songs of All Time, de 2004. Já o canal de TV VH1, aponta a composição na 53ª posição de sua lista best hard rock song of all time, de 2009.

São inúmeras as aparições de “Born To Be Wild” em filmes, séries de televisão, comerciais, etc. Assim como as versões covers para a mesma, de artistas de diferentes estilos, passando por nomes como Kim Wilde, Bruce Springsteen e Slayer.



YOUR WALL'S TOO HIGH

Já em "Your Wall's Too High", o grupo aposta em um Blues Rock de ritmo cadenciado e marcado que, em outros momentos, é acelerado e intensificado. Seguindo nestes interessantes movimentos, os quais se complementam, a banda consegue desenvolver uma boa faixa.

A letra é uma mensagem de esperança:

Ah, sometimes early in the mornin'
Without warnin' you'll realize
That you ain't too wise
With your head bowed down you go downtown
Watch an old lady hit the ground
Lots of people standin' round
But nobody seems to know her



DESPERATION

"Desperation" mantém um ritmo mais lento logo após uma introdução bem climática. Mesmo contando com a distorção das guitarras, a tônica é a suavidade e esta acaba por envolver o ouvinte com uma melodia bem interessante.

A letra é simples:

When rain drops fall and you feel low
Ah, do you ever think it's useless
Do you feel like letting go
Do you ever sit and do you wonder
Will the world ever change
And just how long will it take
To have it all rearranged...



THE PUSHER

A interessante "The Pusher" bebe na fonte da música tradicional norte-americana, com forte influência do Blues e, também, do Soul. Seu ritmo lento e melódico é reforçado pelo ótimo trabalho vocal de Kay. As guitarras estão bastante presentes e o órgão de McJohn dita o ritmo. Outro dos melhores momentos do álbum.

A letra é uma clara referência a temática de drogas:

You know the dealer, the dealer is a man
With the love grass in his hand
Oh but the pusher is a monster
Good God, he's not a natural man
The dealer for a nickel
Lord, will sell you lots of sweet dreams
Ah, but the pusher ruin your body
Lord, he'll leave your, he'll leave your mind to scream

Lançada como single, não obteve maior repercussão em termos de paradas de sucesso.


“The Pusher” foi composta por Hoyt Axton, mas ele mesmo só a gravou em 1971, em seu álbum Joy To The World. Portanto, a versão do Steppenwolf veio à tona bem antes.

A faixa também estava presente no filme Easy Rider e seu conteúdo lírico se encaixou bem com o mesmo.

Ao executar a canção publicamente no final dos anos 1960, a letra repetida "God Damn" foi muitas vezes controversa, mais notoriamente em Winston-Salem, na Carolina do Norte, onde oficiais da cidade tentaram forçar a banda a usar um eufemismo (tais como "Gosh darn" ) em vez da letra real. Embora a banda tenha prometido não cantar o verso, o público os berrava, preenchendo as palavras ofensivas nos locais apropriados da canção.



A GIRL I KNEW

A faixa "A Girl I Knew" possui uma boa musicalidade, repleta de uma melodia simples e vibrante, com a guitarra brilhando em solos com muito feeling. É a canção mais curta do trabalho, indo direto ao ponto sem maiores rodeios.

A letra se refere a uma garota:

A girl I knew
Someone I used to talk to
When we'd meet in the middle of a room
A girl I knew
Her world a shade of blue
Someone I used to talk to

“A Girl I Knew” foi o primeiro single lançado pelo Steppenwolf, antes mesmo de seu álbum de estreia, em 1967. Entretanto, sem maiores repercussões em termos de paradas de sucesso.



TAKE WHAT YOU NEED

A pegada Blues Rock está de volta, contando com o ritmo mais cadenciado e com a forte presença das guitarras. Outra boa atuação da seção rítmica confere intensidade à canção. Boa composição.

A letra remete a um relacionamento:

Took a stroll in the country
Some peace of mind to find
Wire fences everywhere
No place to rest my mind
Seems like a shame to me
The way some people hog the land



THE OSTRICH

A décima-primeira - e última - faixa do álbum de estreia do Steppenwolf é "The Ostrich". Com um ritmo bastante envolvente e até alguma dose de peso, a música derradeira do trabalho apresenta um resultado deveras contagiante. Ótima presença de Jerry Edmonton na bateria com a eficiente companhia do baixo de Rushton Moreve. Encerra o disco com chave-de-ouro.

A letra é uma crítica ao sistema norte-americano:

You're free to speak your mind my friend
As long as you agree with me
Don't criticize the father land
Or those who shape your destiny
'Cause if you do
You'll lose your job your mind and all the friends you knew
We'll send out all our boys in blue
They'll find a way to silence you



Considerações Finais

Catapultado – e muito – pelo sucesso de “Born To Be Wild”, o autointitulado álbum de estreia do Steppenwolf fez muito barulho.

Atingiu a ótima 6ª colocação na principal parada norte-americana de sucessos, bem como a 59ª posição de sua correspondente britânica. Ainda conquistou o primeiro lugar no Canadá.

As críticas dos especialistas em geral são positivas. A revista Rolling Stone recebeu bem o trabalho. Bruce Eder, do AllMusic, dá ao disco 4, de um máximo de 5 estrelas, destacando que as melhores faixas do mesmo, no entanto, não foram compostas por membros da banda, como “Born To Be Wild” e “The Pusher”.

O álbum vendeu bem, superando a marca de 500 mil cópias apenas nos Estados Unidos (o single “Born To Be Wild”, sozinho, também superou 500 mil cópias comercializadas em terras ianques).

Com o disco indo bem, novas portas se abriram para a banda, incluindo um show no lendário Fillmore East, em New York City, ao lado de Buddy Rich e Children of God. A apresentação rendeu muitos elogios e críticas positivas ao grupo.

Aproveitando a boa maré, ainda em outubro de 1968, a banda lançaria seu segundo álbum, The Second.



Formação:
John Kay: Guitarra, Gaita, Vocal
Rushton Moreve: Baixo, Backing Vocals
Michael Monarch: Guitarras, Backing Vocals
Goldy McJohn: Órgão, Piano, Piano Elétrico
Jerry Edmonton: Bateria, Percussão, Backing Vocals

Faixas:
01. Sookie Sookie (Covay/Cropper) –3:12
02. Everybody's Next One (Kay/Mekler) –2:53
03. Berry Rides Again (Kay) –2:45
04. Hoochie Coochie Man (Dixon) –5:07
05. Born to Be Wild (Bonfire) –3:28
06. Your Wall's Too High (Kay) –5:40
07. Desperation (Kay) –5:45
08. The Pusher (Axton) –5:43
09. A Girl I Knew (Cavett/Kay) –2:39
10. Take What You Need (Kay/Mekler) –3:28
11. The Ostrich (Kay) –5:43

Letras:
Para o conteúdo completo das letras, recomenda-se o acesso a: https://www.letras.mus.br/steppenwolf/

Opinião do Blog:
O final dos anos 60 e início dos anos 70 foi uma excelente fase para o Rock & Roll, época em surgiram várias bandas que mudariam a história do estilo. Neste caldeirão musical e cultural é que o Steppenwolf estava inserido.

Tão importante quanto a boa música que gravou, foi a sua associação com o filme Easy Rider, um verdadeiro marco da contracultura norte-americana. Ambos permaneceriam, desde então, atrelados de forma quase definitiva.

O Steppenwolf estava formado por músicos competentes. O baixo de Rushton Moreve é um dos destaques do álbum pela sua onipresença, ditando o ritmo. Também Goldy McJohn aparece de forma a contribuir para a qualidade do trabalho.

John Kay se revela um compositor prolífico e um vocalista eficiente. Sua voz não soa marcante e nem brilhante, mas se une de forma praticamente perfeita com o instrumental da banda.

A sonoridade proposta é mesmo o Rock & Roll, por vezes o fundindo com o Blues. Em outros momentos, como em "The Pusher", é perceptível o flerte com o Soul e o Jazz, mesmo que em doses homeopáticas. Também o Rock da década de 50 é referenciado de maneira contagiante.

Se há um pecado no álbum de estreia do Steppenwolf é sua grande quantidade de faixas, dando oportunidade para composições não tão inspiradas como "Everybody's Next One". Nada que comprometa o resultado final.

Claro que o álbum trouxe um dos maiores e mais reconhecidos clássicos do Rock & Roll em todos os tempos: "Born To Be Wild" é uma composição esplendorosa e atemporal. Mas nem só dela vive o disco.

"The Pusher" - e todas as suas nuances e influências - mostra-se como uma música maior e brinda o ouvinte com graciosidade e intensidade. Outros ótimos momentos do álbum são "Berry Rides Again", "Desperation" e "The Ostrich".

Parece consenso entre os críticos que o álbum de estreia do Steppenwolf foi mesmo seu ponto mais alto, oferecendo à humanidade um hino como "Born To Be Wild". O Blog concorda com esta afirmativa mesmo pensando que a banda fez outros discos interessantes, como The Second. Enfim, a estreia do Steppenwolf é um álbum essencial para colecionadores e sua audição atenta é obrigatória aos fãs de Rock.

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